ENCONTRO COM LÚCIFER À MEIA-NOITE
Seu Sigismundo Alencar de
Macêdo, era um homem de estatura mediana, meio forte, tipo meio branquelo,
morava num sítio da zona rural nas proximidades de Buíque, denominado de Zé
Prego, de onde vinha para à rua, geralmente à pés. Eram somente seis léguas de
distância para à cidade. De origem de família influente de Buíque, conseguira
um emprego público de organização da feira-livre nos dias de sábado, e só
trabalhava nesses dias do mês e, nos demais, cuidava de uma roça e de algumas
criações no sítio onde morava. Era casado com Dona Umbelina de Siqueira e tinha
uns oito filhos, o mais novo em torno de dois anos de idade. Tinha seus vícios
da vida mundana. Gostava de namorar, raparigar e de tomar umas e outras, ou até
mesmo todas. Mas era um cidadão exemplar perante à família, e não deixava
faltar o mínimo possível para mantença de sua mulher e filhos, dentre os quais,
quatro eram mulheres.
Tinha em torno de quarenta anos de idade, mas toda essa prole
grande, foi porque se apaixonou por Dona Umbelina ainda rapaz novo, numa de
suas andanças lá pelas bandas do Sertão de Moxotó e não deu em outra, com pouco
tempo, ainda com poucos anos de idade, o padre veio a celebrar o casamento na
Igreja Matriz de São Félix de Cantalice. Casamento civil ainda não era uma
obrigatoriedade na época, somente o religioso, perante os pés do altar e diante
de Deus, já era o bastante e suficiente para fazer os traquejos do amor e
procriar a prole do tamanho que quisesse e bem entendesse. Pouco importava
poder manter ou não uma grande ou pequena família, afinal de contas, tudo era
vontade de Deus. A ordem bíblica era crescei e multiplicai-vos, daí, haja se
fazer menino, coisa que ainda hoje é muito comum na mentalidade de muita gente,
principalmente da zona rural de Buíque.
O defeito de Sigismundo mesmo, era quando ele exagerava na
danada da cachaça, o que era motivo de sua esposa, dos filhos mais velhos e
principalmente, de seu pai, que ainda o tratava como criança, a ponto de já em
elevada idade, pego bêbado num desses sábados num cabaré de Buíque, lá para as
bandas do Alto da Alegria, não teve outra, o velho seu pai, Seu Zelito Alencar,
não mediu esforços, foi lá e deu-lhe uma pizza da gota serena de cinturão de
couro cru, que o velho se mijou nas calças e, depois disso, sem esboçar nenhuma
reação, foi para a sua casa que ficava à umas seis léguas de Buíque, apesar do
avançado da hora, que já beirava por volta das onze horas da noite. Isso era
para ele, quase que praticamente uma rotina nos dias de sábados e muitas das
vezes, nos de semana também. Nos dias em que estava sóbrio, cuidava de algumas
vaquinhas que tinha e de um roçado para contribuir com a manutenção de sua
família. A preocupação maior de todos, não era nem tanto a questão de ser raparigueiro,
porque esse dote, ele herdou do próprio pai, mas sim, a danada da cachaça que
tirava toda à família do sério e se tinha que se dar uma solução nesse maldito
vício da bebida, era a conversa tanto de seu pai, quanto de seus irmãos, ao
todo, em torno de cinco.
Foi assim que um de seus irmãos, José Alencar, o mais velho,
juntamente com seu Zelito, seu pai, combinaram para num desses sábados qualquer,
que ele costumava ir para sua casa no Sítio Zé Prego, lá por volta da
meia-noite, que ambos se combinaram para lhes dar um susto daqueles para que
ele nunca mais esquecesse. Assim foi combinado e de logo, marcaram um
determinado dia de sábado, e chegado o dia combinado, faltando uns mil metros
para sua rústica casa onde morava com à família e bolaram o que deveria fazer. Iriam
se esconder em alguns arbustos e lhes fazer um medo daqueles que cristão alguma
jamais iria esquecer na vida. No geral, quando era chegado o dia de sábado,
Dona Umbelina já ficava de orelha em pé, pensando consigo mesma, “eita, hoje é
mais um daqueles dias, meu Deus, será que vou agüentar?”, indagava com
perplexidade interior.
Não deu noutra. No dia de sábado combinado para o susto
macabro, o pai, Seu Zelito, o irmão mais velho, José Alencar, montados em dois
cavalos pretos de doer nos olhos, todos paramentados com dois longos capotes,
umas máscaras que arrumaram com aparência de Lúciferes, por volta das dez
horas, se dirigiram para o local combinado. A noite estava escura feito breu, o
barulho das aves noturnas agourentas, do coaxar dos sapos e de grilos, se ouvia
nitidamente naquela noite tenebrosa de meter medo a qualquer vivente e temente
à Deus. Sigismundo, como de costume, estava já com a sua rapariga num certo
cabaré do Alto da Alegria, ainda era por volta de quase onze horas, mas estava
visivelmente embriagado, porém como era determinado quando queria ir embora,
não deu outra. Vestiu sua roupa, colocou seu chapéu de couro na cabeça e pegou
a pequena vereda que ia dar no sítio onde morava e com passos ora lentos, ora
largos, a balançar de um lado para outro, em sinal de tombo, pelo efeito da
cachaça, pé enfiado na areia fina, porem densa, mesmo assim, ira para casa sem
sequer ter ciência realmente que destino estava seguindo. Ao se aproximar do
local onde estava seu pai e o irmão para lhes darem um susto para ver se ele
deixava àquela vida, ao se aproximar, assim de repente, saem os dois demônios,
um deles se dizendo que era Lúcifer, não deu noutra, o velho, sem pestanejar
nenhum um segundo, esquece que estava bêbado, deu uma carreira dos diabos, com
os Diabos atrás de pegá-lo e, ao chegar na porta de casa, via que cada vez mais
Lúcifer e outro demônio, dele se aproximava cada vez mais e cansado, o coração
prestes a sair pela boca, bateu na porta e aos berros, urrava, “Umbelina!,
Umbelina!, Umbelina!, abre à porta que o Diabo quer me pegar, vai mulher, pelo
amor de Deus! – Eles querem me levar para o Inferno! – Vem logo! – Com o que,
acordou assustada e de imediato, a porta estava aberta e Sigismundo com os
olhos arregalados quase estufando, o coração prestes a sair pela boca, com
tamanho susto, dizia palavras sem nexo, “Umbelina, fecha a janela, fecha
rápido, que o diabo quer me pegar! – Apontava o dedo e dizia, ela ta ali! – Não
deixe Lúcifer me levar não! – Me protege Umbelina, que “os coisas ruins” do
inferno querem me levar! – Aos poucos foi se acalmando, os dois desaparecem
como por encanto, mas a lição, apesar de amarga, foi dada.
No outro dia, na ressaca braba de lascar o cano, ele
taciturno, cabisbaixo, com vergonha, estressado, com um peso imenso dentro de
si, pegou uma tesoura, se dirigiu à parede, fez uma cruz e disse a Dona
Umbelina: pode escrever, muié, a partir de hoje, cachaça não entra mais na
minha boca! – Pelo susto que passei ontem, não bebo mais em toda minha vida.
Promessa de quem bebe, como se diz, é a mesma coisa que se escrever com giz ou
na areia. Mesmo assim, ficou por um certo tempo longe da cachaça. Deixou um
pouco o vício das raparigas, das noitadas dos cabarés e por um tempo, todos os
sábados, chegava por volta de seis para sete hora da noite em casa para ajudar
a cuidar de sua mulher e dos filhos.
Como diz o ditado, como promessa de cachaceiro é coisa difícil
de ser cumprida, depois um tempo longe do copo, voltou à mesma velha rotina de
sempre. Cachaça, raparigas aos magotes e esquecer que um dia, teve que mesmo
bêbado além das contas, que se travar com Lúcifer e outro Demônio que o
acompanhava, mesmo assim, a lição do medo dada, de nada lhe serviu, porque o
vício de seu corpo, falou mais alto do que o medo da alma. Foi assim a vida de
Seu Sigismundo, que mesmo nessa pisada, criou uma boa família, seus filhos
foram firmados, apesar de tudo, dentro de um padrão de vida de honradez, dignidade
e honestidade e tempos depois veio a morrer ele primeiro, depois sua esposa,
mas apesar dos defeitos de sua vida, nunca deixou de ser uma pessoa de um forte
caráter de cidadão de bem em Buíque, em que haviam os medos imensos de
demônios, lobisomens, assombrações e até a Luta que teve com Lúcifer e um outro
demônio nos desencontros de sua vida.
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