QUEM REALMENTE SOU

Minha foto
BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

HOJE PUBLICO MAIS UM CONTO DO ENCONTRO DE UM SENHOR BÊBADO E LÚCIFER, NUMA MEIA NOITE, ENTRE ARBUSTOS DE UMA VIA DE ACESSO BEM ESTREITA, A UM SÍTIO DE BUÍQUE.

ENCONTRO COM LÚCIFER À MEIA-NOITE


     Seu Sigismundo Alencar de Macêdo, era um homem de estatura mediana, meio forte, tipo meio branquelo, morava num sítio da zona rural nas proximidades de Buíque, denominado de Zé Prego, de onde vinha para à rua, geralmente à pés. Eram somente seis léguas de distância para à cidade. De origem de família influente de Buíque, conseguira um emprego público de organização da feira-livre nos dias de sábado, e só trabalhava nesses dias do mês e, nos demais, cuidava de uma roça e de algumas criações no sítio onde morava. Era casado com Dona Umbelina de Siqueira e tinha uns oito filhos, o mais novo em torno de dois anos de idade. Tinha seus vícios da vida mundana. Gostava de namorar, raparigar e de tomar umas e outras, ou até mesmo todas. Mas era um cidadão exemplar perante à família, e não deixava faltar o mínimo possível para mantença de sua mulher e filhos, dentre os quais, quatro eram mulheres.
      Tinha em torno de quarenta anos de idade, mas toda essa prole grande, foi porque se apaixonou por Dona Umbelina ainda rapaz novo, numa de suas andanças lá pelas bandas do Sertão de Moxotó e não deu em outra, com pouco tempo, ainda com poucos anos de idade, o padre veio a celebrar o casamento na Igreja Matriz de São Félix de Cantalice. Casamento civil ainda não era uma obrigatoriedade na época, somente o religioso, perante os pés do altar e diante de Deus, já era o bastante e suficiente para fazer os traquejos do amor e procriar a prole do tamanho que quisesse e bem entendesse. Pouco importava poder manter ou não uma grande ou pequena família, afinal de contas, tudo era vontade de Deus. A ordem bíblica era crescei e multiplicai-vos, daí, haja se fazer menino, coisa que ainda hoje é muito comum na mentalidade de muita gente, principalmente da zona rural de Buíque.
     O defeito de Sigismundo mesmo, era quando ele exagerava na danada da cachaça, o que era motivo de sua esposa, dos filhos mais velhos e principalmente, de seu pai, que ainda o tratava como criança, a ponto de já em elevada idade, pego bêbado num desses sábados num cabaré de Buíque, lá para as bandas do Alto da Alegria, não teve outra, o velho seu pai, Seu Zelito Alencar, não mediu esforços, foi lá e deu-lhe uma pizza da gota serena de cinturão de couro cru, que o velho se mijou nas calças e, depois disso, sem esboçar nenhuma reação, foi para a sua casa que ficava à umas seis léguas de Buíque, apesar do avançado da hora, que já beirava por volta das onze horas da noite. Isso era para ele, quase que praticamente uma rotina nos dias de sábados e muitas das vezes, nos de semana também. Nos dias em que estava sóbrio, cuidava de algumas vaquinhas que tinha e de um roçado para contribuir com a manutenção de sua família. A preocupação maior de todos, não era nem tanto a questão de ser raparigueiro, porque esse dote, ele herdou do próprio pai, mas sim, a danada da cachaça que tirava toda à família do sério e se tinha que se dar uma solução nesse maldito vício da bebida, era a conversa tanto de seu pai, quanto de seus irmãos, ao todo, em torno de cinco.
     Foi assim que um de seus irmãos, José Alencar, o mais velho, juntamente com seu Zelito, seu pai, combinaram para num desses sábados qualquer, que ele costumava ir para sua casa no Sítio Zé Prego, lá por volta da meia-noite, que ambos se combinaram para lhes dar um susto daqueles para que ele nunca mais esquecesse. Assim foi combinado e de logo, marcaram um determinado dia de sábado, e chegado o dia combinado, faltando uns mil metros para sua rústica casa onde morava com à família e bolaram o que deveria fazer. Iriam se esconder em alguns arbustos e lhes fazer um medo daqueles que cristão alguma jamais iria esquecer na vida. No geral, quando era chegado o dia de sábado, Dona Umbelina já ficava de orelha em pé, pensando consigo mesma, “eita, hoje é mais um daqueles dias, meu Deus, será que vou agüentar?”, indagava com perplexidade interior.
    Não deu noutra. No dia de sábado combinado para o susto macabro, o pai, Seu Zelito, o irmão mais velho, José Alencar, montados em dois cavalos pretos de doer nos olhos, todos paramentados com dois longos capotes, umas máscaras que arrumaram com aparência de Lúciferes, por volta das dez horas, se dirigiram para o local combinado. A noite estava escura feito breu, o barulho das aves noturnas agourentas, do coaxar dos sapos e de grilos, se ouvia nitidamente naquela noite tenebrosa de meter medo a qualquer vivente e temente à Deus. Sigismundo, como de costume, estava já com a sua rapariga num certo cabaré do Alto da Alegria, ainda era por volta de quase onze horas, mas estava visivelmente embriagado, porém como era determinado quando queria ir embora, não deu outra. Vestiu sua roupa, colocou seu chapéu de couro na cabeça e pegou a pequena vereda que ia dar no sítio onde morava e com passos ora lentos, ora largos, a balançar de um lado para outro, em sinal de tombo, pelo efeito da cachaça, pé enfiado na areia fina, porem densa, mesmo assim, ira para casa sem sequer ter ciência realmente que destino estava seguindo. Ao se aproximar do local onde estava seu pai e o irmão para lhes darem um susto para ver se ele deixava àquela vida, ao se aproximar, assim de repente, saem os dois demônios, um deles se dizendo que era Lúcifer, não deu noutra, o velho, sem pestanejar nenhum um segundo, esquece que estava bêbado, deu uma carreira dos diabos, com os Diabos atrás de pegá-lo e, ao chegar na porta de casa, via que cada vez mais Lúcifer e outro demônio, dele se aproximava cada vez mais e cansado, o coração prestes a sair pela boca, bateu na porta e aos berros, urrava, “Umbelina!, Umbelina!, Umbelina!, abre à porta que o Diabo quer me pegar, vai mulher, pelo amor de Deus! – Eles querem me levar para o Inferno! – Vem logo! – Com o que, acordou assustada e de imediato, a porta estava aberta e Sigismundo com os olhos arregalados quase estufando, o coração prestes a sair pela boca, com tamanho susto, dizia palavras sem nexo, “Umbelina, fecha a janela, fecha rápido, que o diabo quer me pegar! – Apontava o dedo e dizia, ela ta ali! – Não deixe Lúcifer me levar não! – Me protege Umbelina, que “os coisas ruins” do inferno querem me levar! – Aos poucos foi se acalmando, os dois desaparecem como por encanto, mas a lição, apesar de amarga, foi dada.
    No outro dia, na ressaca braba de lascar o cano, ele taciturno, cabisbaixo, com vergonha, estressado, com um peso imenso dentro de si, pegou uma tesoura, se dirigiu à parede, fez uma cruz e disse a Dona Umbelina: pode escrever, muié, a partir de hoje, cachaça não entra mais na minha boca! – Pelo susto que passei ontem, não bebo mais em toda minha vida. Promessa de quem bebe, como se diz, é a mesma coisa que se escrever com giz ou na areia. Mesmo assim, ficou por um certo tempo longe da cachaça. Deixou um pouco o vício das raparigas, das noitadas dos cabarés e por um tempo, todos os sábados, chegava por volta de seis para sete hora da noite em casa para ajudar a cuidar de sua mulher e dos filhos.
     Como diz o ditado, como promessa de cachaceiro é coisa difícil de ser cumprida, depois um tempo longe do copo, voltou à mesma velha rotina de sempre. Cachaça, raparigas aos magotes e esquecer que um dia, teve que mesmo bêbado além das contas, que se travar com Lúcifer e outro Demônio que o acompanhava, mesmo assim, a lição do medo dada, de nada lhe serviu, porque o vício de seu corpo, falou mais alto do que o medo da alma. Foi assim a vida de Seu Sigismundo, que mesmo nessa pisada, criou uma boa família, seus filhos foram firmados, apesar de tudo, dentro de um padrão de vida de honradez, dignidade e honestidade e tempos depois veio a morrer ele primeiro, depois sua esposa, mas apesar dos defeitos de sua vida, nunca deixou de ser uma pessoa de um forte caráter de cidadão de bem em Buíque, em que haviam os medos imensos de demônios, lobisomens, assombrações e até a Luta que teve com Lúcifer e um outro demônio nos desencontros de sua vida.

Nenhum comentário: