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sábado, 2 de maio de 2015

HOJE MAIS UM CONTO É PUBLICA NO BLOG DO MANOEL MODESTO, SOBRE UM DETERMINADO JOVEM QUE SÓ CHEGOU NA VIDA A APRENDER MESMO, FOI ENCANTAR GRILOS, MESMO ASSIM, CHEGOU A OCUPAR ESPAÇOS POLÍTICOS EM SEU TABAQUEIRO.

O JOVEM QUE SÓ SABIA ENCANTAR GRILOS


       Filho de José Marcolino e de Dona Josefa Silva, Jônio Bitus, era o filho homem de uma família composta por quatro filhos. Três filhas mulheres e o mais velho era mesmo Jônio. Nome um tanto estranho, mas era isso mesmo. De origem de uma família mais ou menos tradicional do interior do sertão pernambucano, de uma cidadezinha lá das bandas das Águas Belas à dentro, ele houvera nascido por volta da década de setenta para oitenta, mas Zé Marcolino, seu pai, como era mais conhecido, era fã número um do conjunto musical The Beatles e, também de um de seus integrantes, depois de dissolvido o conjunto inglês, surgido das periferias de Londres, em Liverpool, era John Lennon. Por isso mesmo, ele colocou, em homenagem ao conjunto e ao vocal principal da banda, quando de sua existência, de Jônio Bitus. Só que, como ele era praticamente semi-analfabeto, semi-funcional, que ainda hoje existem aos montes, na hora de ir dar os nomes no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, ele mesmo escreveu no papel, que queria que colocasse o nome de seu filho de JÔNIO BITUS MARCOLINO DA SILVA e assim ficou registrada e de papel passado o nome de seu filho mais velho. Melhor explicando, “Jônio”, de John e, “Bitus”, dos Beatles.
      Zé Marcolino em sua terra, era metido a arrochado. Gostava de tomar umas talagadas das boas. Quando se embriagava, não tinha boquinha não, quem tivesse por perto, levava mãozada na cara, porrada de todo jeito e ninguém esboçava nenhuma reação, porque ele só andava armado e com um cinturão recheado de balas do seu trintaoitão, que foi não foi, puxava, apontava para um lado, mirava em alguém, mas ficava somente nisso. Mesmo sem beber, era metido a valentão e chegou até mesmo, a ser político influente em sua terra, que mais parecia uma tábua de pirulito de tabaqueiro, mas se gabava por mandar e desmandar naquele lugar como bem entendesse. Seu filho, seguindo o exemplo do pai, não fazia porra nenhuma. Logo cedo, ainda de menor idade, o que aprendeu mesmo, foi fazer com muito esforço, cursar o ensino médio e chegar tempos depois, a uma faculdade que nunca terminou, porque era preguiçoso mesmo para os estudos. Não queria saber de porra nenhuma na vida. Só farrar, se aproveitar da influência política do pai e tudo estava de bem com à vida. Não queria mais nada. Talvez ser um político também, que é justamente uma profissão adequada para quem na vida só aprendeu mesmo a encangar ou encantar grilos.
     Depois de certo tempo, seu pai veio à falecer de cirrose hepática, com falência múltipla dos órgãos. No enterro muitas pessoas do lugar que nutria admiração por Zé Marcolino, acompanharam o cortejo fúnebre até o cemitério local. Seu filho Jônio, ficou desolado, mas com o passar do tempo, como o que tinha aprendido na vida tinha sido encangar e encantar grilos, inventou de enveredar pela política e assim foi feito. Começou como vereador e usando do nome de seus ancestrais, foi eleito vereador mais votado de seu tabaqueiro e, na condição de vereador, nem saber fazer um discurso em plenário, nas sessões da câmara de vereadores, ele sabia fazer, mesmo assim, discursava, mentia pra danar e o povo começou a tomar gosto por ele e, numa próxima eleição, chegou a ser prefeito de sua terra. Manobrou como quis os eleitores, teve a ajuda de grandes fazendeiros de sua terra e terminou por derrubar uma oligarquia que mandava em seu tabaqueiro, por mais de vinte anos. Ainda com uma idade jovem, porém com a experiência de vereador, que o que aprendeu mesmo foi se apropriar indevidamente do dinheiro do povo, principalmente quando no segundo período legislativo foi presidente da casa legislativa e só aprovava uma lei, com uma quantia gorda na frente, senão nada de colocar lei nenhuma em votação e assim, com todo esse traquejo de maracutaieiro, chegou a ser prefeito de sua cidade com uma boa votação.
    Eleito fez uma farra digna de uma noite das Arábias. A cachaça tomou no centro e todos os seus aliados de algaroba mais próximos, não deixaram por menos, tomaram todas que quiseram e não era cachaça não! – Tinha que ser uísque do bom e do melhor, daquele azulzinho ou pretinho, envelhecido em barris especiais vindos diretamente da escócia. Porra de município que se foda, dizia ele, já em elevado estado de embriaguês! – Povo!, que vá tomar no fiofó! – Já to eleito mesmo! – Quem quer saber mais do povo, caralho!, urrava com sonorização pastosa, própria de quem já está bêbado. Eleito, depois da festa homérica, veio à ressaca, depois de um curto espaço de tempo, teria que assumir o novo cargo de primeiro mandatário e assim foi feito.
    Ao assumir, Jônio Bitus, era o tipo de cara extremamente popular, mas depois que vestiu à toga de prefeito, assinou a ata de posse, a coisa mudou. Se fechou em copas, sumiu do mapa, não aparecia no seu tabaqueiro e não queria saber de ninguém. No geral, só queria saber mesmo era de usufruir do dinheiro que vinha para o seu povo, fazia alguma besteira para enrolar e quanto ao resto, que se fudesse, que ele não estava nem aí. Mesmo assim, como o povo desse tabaqueiro era sem-vergonha em demasia, ainda chegaram a dar um outro mandato a Jônio Bitus. Coisa de gente sem-vergonha mesmo! – Votar em quem está chupando o seu próprio sangue, é de lascar o cano, pensavam alguns que faziam oposição a ele, mesmo de forma tímida, mas faziam. Enquanto isso, Jônio não tava nem aí. Vereador, tudo de seu lado. Segundo ele, em suas farras, chegava mesmo a dizer: “porra de vereador, caralho! – Batia no bolso com força, com à mão direita e dizia, tá tudo aqui na minha mão! – É só ter dinheiro! – Afinal, vereador e merda é a mesma coisa. Aliás, não troco minha merda em meu tabaqueiro. O lugar era conhecido como tabaqueiro, porque o nome do município foi denominado de Tabakueiro, daí o nome em tom de gozação, de “tabaqueiro”. Será que o povo tabakuense tinha orgulho de ser chamada de terra dos tabaqueiros, hem! – Mas jônio não estava nem aí. O que ele queria mesmo era comprar carrões, mansões, grandes apartamentos na capital, grandes fazendas noutros estados e o resto que se lascasse.
     E assim esse tipo de sujeito que só aprendeu mesmo a encangar e encantar grilos, teve a sorte de chegar mesmo até a ser prefeito de seu lugar duas vezes, mas o futuro de seu povo, estava indo mesmo era pras cucuias, pra casa de cacete mesmo. Não tava nem aí! – Se dizendo já rico e potentado, quem quer saber mais de porra de povo, seu caceta! - Até quando isso viria mesmo a perdurar, era coisa que ninguém jamais poderia imaginar, mas que alguma coisa teria que mudar, disso muita gente já estava percebendo que não se tinha a menor dúvida, porque uma vez tabaqueiro, não poderia ser sempre um tabaqueiro da casa da mão Joana ou de Noca, ou será que isso ainda iria perdurar, esse era o questionamento que muitos do lugarzinho de merda faziam uns aos outros.

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