OS DUENDES E OS PAPAS-FIGOS DE MINHA
INFÂNCIA
Quando criança, acredito que lá por volta de meus tenros
cinco para seis anos de idade, não posso cronometrar bem o tempo, mas uma coisa
que me metia um medo danado, eram os duendes a me infernizar no meu sono
noturno, em minhas rústicas rede ou cama de dormir. O susto era grande quando
eles apareciam de baixo de minha cama ou da rede, para me fazer susto, querendo
me carregar ou puxar os dedos dos meus pés. Eram figurinhas horrendas, feias
mesmas, pequeninas, mas com cara de cruéis. Depois vieram os papas-figos,
quando fim morar na cidade para estudar. Não sei por que, mas sempre me vem à
mente lembranças desses tempos em que os duendes e papas-figos, me assustam pra
valer. Às vezes até, fico a imaginar que eles ainda continuam no meu
subconsciente a tentar me assustarem pelo resto de minha vida.
Fico a imaginar
que a perseguição deles à minha pessoa, é uma coisa que ainda não saiu de minh’alma,
de meu subconsciente. É uma perseguição, pelo visto, por toda minha existência.
Por que duendes ou papas-figos, hem? – Não sei bem explicar, o porquê de me vir
à mente essas histórias desses assustadores duendes e papas-figos de minha
triste e não muito distante infância, passada no lúgubre, abandonado e distante
na época, da cidade, do Sítio Cigano, para, numa segunda fase, virem os
papas-figos. À noite, quando não de Lua Nova, era escura feito breu, lá no
Sítio Cigano. Pior, quando das noites de tempo de seca braba, de noites longas
e de escuridão profunda, saía das caatingas que não se avistava um palmo à
frente do nariz, os fogos-corredores, que na época a gente imaginava serem
almas penadas. Tempos depois, vim a saber, que não se tratava de alma penada
coisíssima nenhuma, mas sim, uma combustão de gases de animais mortos em atrito
com o gás oxigênio, daí pegar fogo, se formando tochas soltas a se deslocar no
ar e a nos meter medo. Eram horripilantes noites de terror, se é que, morar
naquelas brenhas já não fosse aterrorizante.
Os duendes na
verdade, pareciam reais, mas pelo sim, pelo não, cheguei muito depois à conclusão,
que eram fruto das histórias de bruxas, da moura-torta, entre outras infantis,
mas com certo teor mais para histórias de terror, que minha mãe contava para
nós, antes de dormir, daí ficavam as personagens a vaguear incrustadas em minha
mente e vinham indubitavelmente os sonhos, que na verdade, pareciam reais e o
susto, o medo que tinha dos duendes verdinhos que apareciam de baixo e nos pés
de minha cama, era de arrepiar. Só lembro que o susto era grande.
No momento
atual, pelo visto, os pesadelos reais continuam, mas não com duendes frutos do
imaginário em face das histórias da carochinha que a minha mãe nos contava
antes de dormir. Os duendes a nos assustar no mundo contemporâneo ou
pós-modernista, são reais e de outra forma, mas sempre estão em todos os
lugares a nos rondar e nos meter medo, sobretudo para quem quer viver em paz e
com a consciência tranqüila. Em todos os lados a gente encontra duendes, não só
os verdinhos e pequeninos, mas de todas as cores e de todos os tamanhos, porque
o mundo chegou a um ponto de crudelidade tal, que os duendes de hoje, não são
mais aqueles de meus sonhos de tenra idade, mas reais de verdade e que tiram a
vida de muitos, além de levarem o que você tem ou não. Se acaso só tiver a
vida, eles a levam impiedosamente. São os duendes pestilentos e bestiais da
horda da criminalidade e das maldades que se alastram por este mundo tão
avançado, porém tão distante das coisas simples que um dia a gente na vida
viveu. Os papas-figos só nos assustavam, figura criada pelos mais velhos, para
assustar as crianças que não obedeciam os pais, que tinham a mania de devorar
os fígados das criancinhas, só que, hoje eles existem de verdade e devoram os
fígados não tão-somente de criancinhas, mas sim, de gente grande também.
Os duendes de minha
rude infância, os papas-figos, só assustavam. Que eram horripilantes, disso não
se pode ter dúvidas, mas não levavam vidas. Os de hoje, levam até a sua alma,
além de tudo que você tem em sua vida e até mesmo, inexplicavelmente, sem
nenhuma justificativa, a sua própria vida. Os duendes e os papas-figos que me
assustam hoje, são reais, existem aos montes, se multiplicam todos os dias e
não são como os duendes dos meus sonhos de criança ou os papas-figos comedores
de fígados de gente miúda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário