O MANGANGÁ
E O JUMENTO
Perigo, era o nome de um dos
jumentos de meu pai. Era de porte médio, não tão grande, de cor acinzentada e
como todos os jumentos, com àquele característico sinal no lombo, que dizem ter
sido do mijo de Jesus, quando em sua época montou num desses animais. A questão
mesma, era que Perigo, era bom de trabalho e brabo que nem um cachorro doido,
quando a gente lhe cutucava para andar mais rápido, ao carregar numa cangalha,
apetrecho de se colocar no lombo do animal, com duas caçambas de madeira, uma
de cada lado, para o carrego de água em latas de lata de vinte litros cada ou
então para tijolos de construção desses de alvenaria dos mais antigos. Nesse
trabalho, esse jumento era muito útil, entre os outros que meu pai possuía,
Calunga e Retrato, que também eram uns belos jumentos. Meu pai era tão ligado
aos jumentos, que parecia conversar com eles e os entender. Parecia coisa
mágica, mas era assim mesmo.
Meu pai nutria um grande amor por esses animais, cuidava
muito bem deles, pois ajudava em nosso sustento e também, servia de passatempo
para o meu pai no trato deles, como se cuidava de algo especial. Ele tinha
adoração por animais. O jumento que ele deu o nome de Perigo, quando criança
mais ou menos na casa entre oito para dez anos, era realmente o que oferecia
maior perigo real, até mesmo para quem dele se aproximasse, por ser manhoso e arisco
demais. Qualquer coisa, até mesmo um zunir em suas orelhas, dava popas danadas,
sem querer saber para qual lado e a quem viesse atingir. O bichano era perigoso
demais, mas aguentava bem o tranco do trabalho do nosso dia a dia. Era, como o
disse o velho Lua Gonzaga, “o jumento nosso irmão”.
Certa feita, ao montar nele, nas proximidades de um pé de
coqueiro desses que brotam cachos enormes de coquinhos, em que estávamos
próximos, eu e Perigo, eis que de repente, se não me engano, saiu um mangangá,
que era um tipo de inseto pretinho, voava com o esvoaçar das asas com uma
velocidade enorme a ao se movimentar verticalmente e com um zunir azucrinante
em nossos ouvidos e eis que, assim de repente, parece que entrou em uma das
orelhas de Perigo, que não deu outra, danou a pinotar, dar popas infelizes para
todos os lados, ora rodopiava, fazia pantim para correr, e o danado do mangangá
zunindo dentro de seu ouvido e o ferroando, que era uma dor danada uma ferroada
de um mangangá. Só lembro que foi uma parada dura, essa que enfrentei em minha
vida. Só sei que nessa conversa, como estava justamente montado em Perigo,
nesse descontrole em face do ataque inesperado do mangangá, nesses movimentos
desacertados para todos os lados, terminou por me jogar ao chão, que
estatalado, fiquei imóvel por volta de meia hora sem fôlego, sem poder me
movimentar, não sei se perdi os sentidos, mas depois de certo tempo, Perigo
parou de dar piruetas e voltou ao normal, mas dessa queda, nunca na minha vida
esqueci, tampouco do mangangá, que embora pequeno, quando ferroava alguém, doía
para danar. Era um Deus nos acuda. Pior era que não tinha remédio nenhum para
amenizar a dor, também ninguém sabia das consequências da ferroada de um inseto
daqueles. Pelo visto no coqueiro próximo onde nos encontrávamos, havia um
enxame desses danados, que geralmente eram chegados à seiva dos cachos de
coquinhos.
Esse foi um dos fatos mais marcantes de minha infância. Nunca
esqueci por toda minha vida, dos jumentos de meu pai, Calunga, Retrato e
Perigo, mas o que mais me marcou mesmo, foi este último, em face da queda que
me deixou por mais de meia hora estatalado no chão, praticamente desmaiado e
sem poder me levantar enquanto ele brigava sem ter como vencer, a fúria do
ataque do mangangá.
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