O ESQUIFE
Num momento qualquer, assim
como que a relampejar, fiquei sem noção do tempo. Não sabia se era noite, dia,
hora, data, nada disto tinha ciência e discernimento. Foi tudo de repente e por
mais que tentasse me inquietar, parecia que não conseguia me mover, andar, sair
do lugar ou sequer em que lugar me encontrava. Por mais esforço mental que
fizesse não conseguia lembrar-me de nada. Cheguei a indagar a mim mesmo: afinal
onde estou? – O que está acontecendo comigo?
O tempo estava parado ou o tempo passava sem que eu
percebesse. Estava completamente preso numa espécie de um limbo, que já houvera
assistido em algum filme paranormal. Mas finalmente, o que era normal para mim
naquele exato momento? – Não sabia; não sei se sabia de nada. Era tudo
escuridão, alternando em claridade, mas a mim me parecia que era tudo normal,
entretanto, permanecia inerte, preso, sem movimentos e sem domínio de meu corpo
ou de minhas vontades. Não mais sentia vontade. Afinal, o que era tudo aquilo
que estava se passando? – Nada compreendia. Tudo estava envolto por uma
estranheza aonde buscava respostas, porém não encontrava uma explicação.
Tentava me movimentar, levantar-me, porém não encontrava
forças em meu corpo; meus braços e mãos perderam os movimentos e minhas pernas,
não encontravam mais forças para que pudesse ficar ereto e sequer vir a dar um
passo. Foi aí que comecei a perceber que algo de muito estranhou houvera
acontecido comigo. Será que estava preso em alguma camada entre terra e espaço,
entre a imensidão do mar e o Céu, flutuando à esmo, sem rumo, sem direção,
perdido não sabia aonde, mas não sabia me localizar geograficamente, tampouco
chegara a ordenar minhas ideias, meus pensamentos. Tudo estava nublado, em uma
penumbra grossa, quase à beira da escuridão infinda. Sinceramente, imaginava
que estava vivinho da silva, só que, não sabia aonde tinha ido parar naquela
ocasião.
O tempo parado, o tempo passando, não sabia o que estava
acontecendo de verdade. Foi aí que em determinado momento, meu corpo começou
pelos dedões dos pés, a esfriar ardentemente, como se estivesse ido para nas
geleiras do Alasca, no Polo Norte e em instantes, não só meus dedões dos pés,
mas todo meu corpo congelou de repente, meus dentes se cerraram, não conseguia
mais abrir à boca, minhas pálpebras não mais se movimentavam e não conseguia
mais balbuciar palavra alguma. O que estava acontecendo comigo, indagava
mentalmente? – Mas até mesmo minha mente estava a falhar e já nada mais me
respondia. Que mistério seria aquele a me dominar naquele momento, em que de
nada tinha noção em minha vida, hem?
Minhas indagações não encontravam eco em parte alguma. Em
determinados momento, imaginei ouvir vozes abafadas vindo de algum lugar.
Algumas pessoas chorando, outras se lamentando e outras mais dizendo: “tão
jovem e já se foi!” – Outros mais diziam, “é, quando chega o momento, não há
quem escape!” – Algumas pessoas ligadas a determinados credos, estavam fazendo
recomendações religiosas, entregando à alma a Deus e pedindo livramento dos
meus pecados, coisa que não fazia muito o meu tipo. Acho que algo de muito
estranho tinha acontecido comigo, porém só eu, prisioneiro onde estava, na
escuridão infinda, nada pude perceber, querendo relutar, mas não conseguia reagir
de jeito nenhum, por mais que tentasse. Todo esforço era em vão. Foi aí que, ao
sentir umas pancadas fortes de areia por cima de mim, com um som um tanto
quanto abafado, porém forte, de que na verdade, eu estava dentro de um esquife,
sendo naquele exato momento, enterrado e de que estava realmente morto, por
isso mesmo, nada mais podia fazer, por mais que implorasse para não me
enterrarem, porque não tinha morrido, estava vivo, e buscava dizer, “olhem,
vejam, estou aqui”, porém pelo visto, ninguém mais me ouvia, a não ser eu
mesmo. Então não mais havia o que fazer e foi aí que cheguei à conclusão,
quando o silêncio parou depois de algum tempo, tudo se tornou uma imensa
escuridão, tudo parou e percebi que tinha realmente morrido e assim, perdi os
sentidos e desapareci para sempre. Não sei para onde fui, só sei que morri,
fiquei inerte, o mundo parou para mim, só que, por alguma razão, fui o último a
saber de minha própria morte e de que, era prisioneiro de mim mesmo, dentro de
um esquife, numa cova sendo enterrado para nunca mais voltar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário