MEU ADEUS
EM ESPECIAL, E DE MEUS FAMILIARES A AURELIANO, “LÉLA” OU “LÉLO”, COMO ERA MAIS
CONHECIDO
Cheguei a conhecer
Aureliano, que costumava tratá-lo pelo apelido de “Léla”, quando voltei do
Estado de São Paulo, em 1972, após passar oito anos ininterruptos naquela Selva
de Pedra. Naquela época, se não me engano, ele trabalhava com Paulo de Teté, com
Joãozinho Tavares ou Bidiu, que vendiam tecidos nas feiras livres da região e
vez por outra, o via no Bar Arizona, onde passei a trabalhar com meu irmão
Miltinho, tomando umas e outras ou mesmo todas. Não estou aqui, falando no
sentido pejorativo, mas apenas relatando fatos reais dos quais tenho
conhecimento em face da convivência aproximada que tivemos, eu, meu irmão Miltinho,
Milvernes Modesto e Neguinho Arnaldo, tendo sido este último, praticamente
criado por nós.
Qual não foi o choque ontem por volta das 13h00, saber que “Léla”,
através de um telefonema de meu irmão Milvernes, houvera subitamente falecido
entre às onze para às doze horas, provavelmente em sua casa, assim de repente,
vítima que fora, certamente de um infarto fulminante, que não lhe permitiu
sequer chegar com vida ao hospital para ser socorrido. A vida, no exato momento
de sua morte, não lhe deu essa chance. Veio à morte assim de repente e
ceifou-lhe à vida, não teve dó nem piedade, e sem ao menos lhe dar a mínima
chance, de pelo menos vir a ser atendido para uma tentativa de se reanimar, o
que de mais precioso a gente tem, que é a vida. E assim, o velho amigo de
longas datas se foi, para ser hoje sepultado no cemitério de Arcoverde, lá por
volta das dez horas da manhã.
Depois que trabalhou com Paulo de Teté, Joãozinho de João
Tavares e com Bidiu também, ele veio a trabalhar no Bar Arizona com a gente, eu
e Miltinho. Lá já se encontrava Neguinho Arnaldo, que ainda pequeno, como sua
mãe trabalhava nos afazeres da cozinha do estabelecimento, o rebento “Neguinho”,
ajudava em outros afazeres, a exemplo de varrer as dependências do Bar, ajudar
no carregamento de água para beber, em jumentos, entre outras pequenas tarefas,
inclusive no atendimento de balcão e, quando eu estudava em Arcoverde, à noite,
na Escola Carlos Rios, ele ficava me esperando até por volta da meia-noite e só
ia dormir nesse horário, depois de guardarmos o carro, para no outro dia, por
volta das cinco horas da manhã, abrirmos a bar para servimos café à nossa
clientela que geralmente vinha dos sítios de Buíque, de Tupanatinga, Itaíba,
para resolver problemas na cidade de Arcoverde, porque em nosso Buíque daqueles
tempos, nada se resolvia. Naquela época também trabalhava com gente, o nosso
tio João Bedeu, que vivia um tanto quanto amargurado da vida e, vez por outra
gostava de tomar um vinhozinho pena preta (vinho jurubeba) e, tempos depois
veio a falecer.
O que mais nos surpreendia em Aureliano, é o fato de que, ele
passava um tempo tomando todas e, outro mais, na sobriedade, sem tocar em
álcool. Quando bebia, não queria saber de trabalho, de responsabilidade alguma,
só bebia, bebia e não parava por um bom tempo de forma continuada e
ininterrupta. Na verdade, ele era uma pessoa doente, porque não podia tomar a
primeira dose que sempre via de consequencia, tomava todas e com isso esquecia
de tudo na vida, mas quando sóbrio, era um sujeito trabalhador e extremamente
honesto, nunca tirou um centavo ou qualquer coisa que a gente colocava sob a
sua responsabilidade. Durante toda sua vida, não enriqueceu, não formou
família, mas em termos de caráter, pode ter alguém igual a ele em Buíque, mas
duvido que tenha mais do que ele, porque ele era um sujeito sério, reto e
honesto, apesar ter se afundado periodicamente na bebida. Também era um fumante
inveterado. Não enriqueceu, pois para pessoas honestas e de caráter igual a “Léla”,
enriquecimento nada valia, mas sim, viver sua vida como bem ele entendesse, mas
quanto a sua retidão de caráter e honestidade, nada a dizer. A questão maior em
sua vida, o seu maior inimigo foi ele mesmo, o seu vício por um longo tempo que
ele carregou em sua vida. A questão de quem bebe, a gente não pode dizer por
quais razões, ou sequer fazer um julgamento, por que quem somos nós para julgar
alguém que bebe quase que corriqueiramente e faz disso uma profissão de fé? –
Ninguém pode julgar ninguém nesse mister.
Apesar de não ter controle sobre sua própria vontade, porque
bebia quando bem entendia, eis que chegou um determinado momento, lá por volta
do ano de 2002 mais ou menos, de forma impressionante, ele, “Léla”, veio a deixar
de beber e de lá para cá, até o dia de ontem, não tinha colocado uma dose
sequer de bebida em sua boca e isso, foi uma decisão dele mesmo, não precisou
recorrer a ninguém ou a instituição alguma. Simplesmente achou que deveria
parar a parou de vez, menos o cigarro, que era fumante de mais de um maço de
cigarros por dia. Durante todo esse tempo, vez por outra, sempre se encontrava
lá na Padaria Cardeal, de meu irmão Miltinho. Não era seu empregado, mas apenas
pela amizade que unia ele e meu irmão. Sempre que ia a Arcoverde, nos falávamos
de forma cortês e alegre, conversávamos um pouco sobre à vida, nossa terra e
algumas vezes, relembrava o nosso passado do Bar Arizona. Por esse seu estilo
de vida, não formou sua própria família. Chegou a se aposentar ao completar 65
anos de idade, da qual só usufruiu mesmo por três anos, porque ao vir a falecer
ontem, contava com apenas 68 anos de idade.
São pessoas assim especiais, comparável a um “Léla”, que
partem e nos deixam praticamente de coração condoído, porque tanto ele, como
meu Tio João Bedeu, entre tantos outros que se vão assim de repente, nos dão
uma dor infinda no interior da gente, mas como os desígnios da vida são assim
mesmo, o que devemos guardar de pessoas como ele, é o fato de que, foi na vida
o que muitos jamais serão, porque era um sujeito honesto, honrado e tinha um
caráter invejável, coisa que muita gente não tem na vida. Nesses últimos tempos,
passou vivendo com sua única irmã, de quem era muito ligado e foi justamente em
sua casa, que na manhã de ontem, assim de repente, sem ter recebido nenhum
recado, veio fatalmente a falecer. Por isso mesmo é que faço essa minha
homenagem, extensiva a Miltinho, Milvernes, Neguinho Arnaldo, meus demais
familiares e tantos outros amigos que tão bem o conheciam, pelo tipo de pessoa
que sempre foi na vida. Nunca deixou de ser o mesmo cidadão honrado, sério e
honesto dentro de sua simplicidade de ser. Pode ser que tenha existindo alguém igual
a “Léla” em nosso Buíque, mas não mais que ele, porque era um sujeito dotado de
uma honestidade e caráter, inigualáveis, daí, nossos sinceros sentimentos e adeus,
camarada AURELIANO, o popular “LÉLA ou LÉLO, como queiram. A vida para todos
nós, tem uma linha demarcatória e misteriosamente, quando ela se rompe, não há
quem possa escapar.
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