A LAGOA DO
SIMIDOURO E O BICHO DE SETE CABEÇAS
Parte da Lagoa do Sumidouro, por trás do Clube Municipal, ainda não totalmente entupida por lixo e entulhos. |
Quando da fundação de Buíque
em 1752, pelo donatário da coroa portuguesa, Félix Paes de Azevedo, ganhou de
mãos beijadas, certamente por ser um daqueles serviçais do reino português e,
portanto, recebeu de presente um mundão de área de terras na época, que
englobava Buíque, Arcoverde, Pesqueira, Garanhuns, Gameleira, entre outros
municípios atuais. Em Buíque, doou mil braças quadradas, para que nesse local
fosse erigida a capela de São Félix de Cantalice, seu passaporte para a porta
do Céu, depois de conversar com São Pedro. Pois bem, foi daí que surgiu o nosso
município, que teve um processo de evolução um tanto quanto complicado, tanto
por sua gente, que Graciliano Ramos em seu livro Infância, descreve uma
população como preguiçosa e que a vida da gente de sua época, era se reunir em
rodas, em torno de uma fogueira para falar da vida alheia e que não gostava de
tomar banho. Acredito que Graciliano Ramos não mentiu de jeito nenhum, mas hoje
essa pisadinha continua do mesmo jeito e mesmo nos sofisticados meios de
comunicação, sem mais existirem as rodinhas, mas ainda assim, sobram aqui, ali,
acolá, vez por outra, grupelhos de pessoas, a falar e dar conta da vida dos
outros. Parece que esse é um mal de toda cidade pequena ou quem sabe, está no
DNA de parte da humanidade.
Foi imaginariamente num cenário desses que veio a surgir
Buíque, que plantada nos seus pés, bem próxima da capela que iria ser erigida a
mando de seu fundador, Felix Paes de Azevedo, já existia uma exuberante lagoa,
de água límpida, pura e bela, que encantava toda população da época, no local
hoje que dá acesso à Vila da Cruz de São Benedito. A cidade cresceu e com isso,
a lagoa que dantes era exuberante e bela, passou a ser um depósito de lixo, de
entulhos, de avanço em suas margens para construções irregulares e atualmente
se encontra em verdadeiro estado de abandono e nenhuma providência é tomada por
parte do poder público, que em questões de preservação de meio-ambiente e do
verde, é um zero à esquerda. A velha lagoa, que já existia mesmo antes de nossa
cidade existir, é realmente de dar pena, está morta, não serve para
absolutamente nada. O que era belo e gozava de exuberância ímpar, hoje não
passa de um desaguadouro de lixo, de podridão e de fedentina insuportável, nada
mais que isto.
Em eras priscas, depois da fundação de Buíque, numa
determinada época, a lagoa se tornou motivo de sumiço de pessoas que em
determinadas horas da noite passava por perto dela e isso, vinha acontecendo
com certa frequência. Quem por lá passava por volta de elevado horário noturno,
principalmente em noites escuras igual a breu, geralmente não aparecia no outro
dia e a explicação que circulava na pequena cidadela de boca à boca, era de
que, existia na lagoa um bicho de sete cabeças e quem em sua proximidades
passasse em determinados dias da semana, em noites de escuridão, era
surpreendido por esse horrendo monstro e por este era imediatamente tragado,
triturado sem dó nem piedade e engolido de uma só vez. E com isso, com o passar
dos tempos, muita gente ia sumindo como que por encanto, principalmente quem
tinha muitos inimigos ou era o tipo de pessoa de má índole e que era metido a
valentão daqueles tempos e mesmo muita gente inocente também desaparecia do
mesmo jeito. Vez por outra desapareciam misteriosamente pessoas de bom caráter,
gente boa, que não merecia terminar assim, sendo tragadas misteriosamente pelo
bicho de sete cabeças. Na verdade, pelo que se sabe, não foram poucas as
pessoas que desaparecerem quando faziam o trajeto da cidade à Vila da Cruz de
São Benedito em determinadas horas da noite. Por isso mesmo, os que eram mais
tementes ao monstro de sete cabeças, não ousava passar por àquela via de acesso
em determinadas horas da noite, porque tinha medo de ser devorado e sumir para
sempre, de forma misteriosa e jamais tinha o seu corpo encontrado. Era algo
inexplicável. Um fenômeno só vindo mesmo das trevas.
A lagoa na época era bem profunda. Atualmente não, em face de
seu entupimento por todo esse tempo, com o desaguadouro de dejetos, de lixo e
toda sorte de coisas para dentro da lagoa há mais de duzentos anos, ela hoje
praticamente não tem vida, está arquejando, como quem pedindo para ser
recuperada e ter vida própria como fora antes mesmo da fundação de nossa terra.
Na verdade, pelo fato de mesmo antes da existência de Buíque de sua existência,
deveria ela ter sido preservada até hoje, mas em virtude de vários descasos
políticos que vem sendo cometidos ao longo de mais de séculos, a lagoa terminou
por definhar e está pedindo socorro, mas a lenda do monstro de sete cabeças,
numa determinada época veio finalmente a ter um fim, porque alguém que tinha
uma visão de um palmo à frente do nariz, chegou a outra conclusão de que a
questão de bicho de sete cabeças, não passava de invencionice dos mandarins
daquela época, para justificarem os seus crimes e permanecerem na impunidade,
que era o que prevalecia na lei que quem podia o mais, podia o menos.
A questão na época do sumiço de pessoas por um longo tempo,
era o fato de que, os coronéis da época, que mandavam e desmandavam no lugar, ordenavam
e eles próprias executavam os seus inimigos ou quem eles bem queriam e, para
que o corpo não aparecesse como uma prova material de alguma prática criminosa,
faziam a desova, amarrados com pedras ou seja lá o que fosse para que o corpo
da vítima permanecesse nas profundezas da lagoa e jamais viesse à tona, daí a invenção
e disseminação da história desse monstro impiedoso e cruel, de seria o responsável
por pelo sumiço, por devorar qualquer pessoa que por lá passasse em noites de
profunda escuridão e foi a partir daí, que a lagoa ficou conhecida como Lagoa
do Sumidouro, isso porque, as pessoas que eram devoradas pelo monstro, que na
verdade foi uma invenção dos poderosos de plantão da época para entocar de
mistério os seus crimes, que nunca eram descobertos e assim, muito assassino
permaneceu incólume, sem pagar absolutamente nada pelos crimes cometidos, pois
a responsabilidade era do monstro de sete cabeça da Lagoa do Sumidouro, que
devorava impiedosamente quem por determinadas horas, em noites de profundas
escuridão, por lá passasse, pois a morte estava escondida nas profundezas da
lagoa, porém jamais vista por ninguém, como fora disseminada a ideia da
existência do monstro, a história ficou e assim o nome da Lagoa ficou como do
Sumidouro, como permanece até hoje, mas só que, hoje ela nada faz desaparecer,
mas apenas não passa de um depósito de lixo, dejetos e todo tipo de entulho,
além de vir sendo invadida pela população, sem nenhuma reação por parte do
poder público, que teria por dever e obrigação proibir tais invasões e também,
de recuperar a Lagoa do Sumidouro de Buíque, em face de sua existência mesmo
antes de aparecer a primeira casa construída para abrigar o nosso primeiro
morador.
A questão do bicho de sete cabeças devorador de pessoas na
Lagoa do Sumidouro, apesar de perdurar por determinado tempo, foi finalmente
descoberto o mistério e a partir de então, o monstro desapareceu
misteriosamente, como que por encanto, mas o nome ainda hoje permanece e, quem
for para à Vila da Cruz de São Benedito em determinadas noites, principalmente
se for numa sexta-feira treze, tenta todo o cuidado para que o bicho não venha
a ressurgir da lama em que deve estar aprisionado no dormitar de seu sono.
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