MAIS UM ANIVERSÁRIO DE BUÍQUE
Não se sabe ao certo na
realidade, qual é a data exata do verdadeiro dia simbológico, do aniversário da
emancipação política de Buíque. Em uma das gestões do ex-prefeito Arquimedes
Valença, foi contratada uma equipe de estudiosos, se não me engano da UFPE,
para fazer um levantamento conclusivo sobre a verdadeira data de aniversário de
nossa terra, que antes era comemorada no dia 26 de maio, chegando essa equipe à
conclusão, não se sabe ao certo por quais meios idôneos, de que Buíque houvera
sido emancipado em 12 de maio de 1854, o que o levaria a estar comemorando hoje
161 anos de emancipação política, entretanto, pela data anterior, 26 de maio de
1904, Buíque completaria hoje 111 anos, ficando aí um vácuo histórico
inexplicável de 50 anos, que ninguém ao certo ainda chegou a justificar do
porquê dessa controvérsia. Cidinaldo Henrique, chegou ainda a escrever um livro
tentando desvendar esse mistério, para esclarecer de vez essa controvérsia, mas
também, apesar de seus desforços dispendidos, e disso lembro bem, de sua luta
para estudar livros da Igreja Católica de Buíque, de nossos cartórios e da
Biblioteca Pública do Recife, mas pelo visto, sua luta e interesse foram em
vão, por que também não chegou a uma data exata sobre a verdadeira data de
nossas elevação de vila para a categoria de município.
Na verdade, com base em leis imperiais, essa data de 12 de
maio de 1854, nos elevou à categoria de Vila Nova de Buíque, e aí ninguém pode
dizer ao certo se realmente essa lei régia imperial, tenha tido o condão de emancipar
Buíque de vez ou não. Essa é uma questão que ainda gera muitas controvérsias,
mas por fim, para acabar com o assunto, se resolveu finalmente se adotar essa
data oficialmente, o dia 12 de maio de 1854, como a verdadeira data de
emancipação política de nosso município, elevando Buíque de prováveis 111 anos
para 161. Controvérsias à parte, mas acredito que essa história ainda precisa
ser melhor esclarecida. Entre uma e outra, quero crer, em face de fundação de
nossa terra por Félix Paes de Azevedo, donatário do Império que ganhou de mãos
beijadas uma grande área de terras, englobando parte de Pesqueira, Arcoverde,
Garanhuns, Gameleira, entre outras, mas aqui, em 1752, chegou a doar uma área
de mil braças quadradas de terras, a São Félix de Cantalice, para comprar um
lugar de sua salvação no Céu, daí ser esse santo o nosso padroeiro.
Na verdade não estava nem aí para falar sobre a provável emancipação
política de Buíque no dia de hoje, mas assim de repente, me veio à mente certas
lembranças do passado, e resolvi escrever alguma coisa e no desenvolver de o
meu texto, eis que assim como num estalar de dedos, me vieram lembranças de
memoráveis festejos de outras emancipações políticas de minha infância, quando
estudava as primeiras letras na Escola Duque de Caxias, de uma cidade telúrica,
singela, apequenada, rude, mas sempre afável e amável, onde eu tinha o prazer
de desfilar nesse dia, o orgulho e ostentação de me encontrar ali perfilado
numa fila marchando candenciadamente ao toque de uma banda escolar puxando o
desfile e isso, era motivo de orgulho e o que mais atraía tudo isso, era no
final, a compensação para deglutir, depois do desfile, um sanduíche não lembro
bem de que, com uma gasosa, refrigerante da época, mas que era, não sei se
suculento, mas que comia com muito gosto, disso não tinha a menor dúvida. Nos
dias de sete de setembro, dia da Independência do Brasil também, da mesma forma
tinha orgulho de vestir o fardamento de minha escola e a representar desfilando
com orgulho por nossa independência. Se isso fosse hoje, jamais faria, porque
não vejo motivo algum para ostentação de orgulho nessa bandalheira política em
que nos encontramos, mas sim, seria motivo de vergonha. Mas eu particularmente,
gostava de desfilar, de fazer o meu papel de patriotismo gosto e com muito
orgulho. Coisa de criança iludida, deveria ser.
Certa feita, não vou entrar bem à fundo, tampouco citar
nomes, mas numa dessas ocasiões, ansioso para desfilar não lembro se na
emancipação de nossa cidade ou num dia de sete de setembro e de última hora,
surgiu um problemão. Só sei que minha mãe, era quem cuidava de nossas rudes
vestimentas, responsável por nossa educação, tinha orgulho dela mesma adquirir
o tecido e com uma máquina de costurar à mão ou daquelas antigas de manuseio
com os pés, ela tinha o prazer de fazer nossas roupas com suas hábeis mãos, os
fardamentos para nos dias de desfile, em que todos nós íamos com a maior
alegria e uma sensação de que estávamos fazendo isso por alguma razão muito
importante em nossas vidas, coisa que não mais acontece nos dias atuais. Mas
voltando à questão do fardamento, num desses desfiles, minha mãe não tinha o
dinheiro para adquirir o tecido para fazer nossos fardamentos, cujo tecido era
adquirido no Recife, porque nas lojas daqui e de Rio Branco, não tinha para
vender ou na capital se adquiria por um preço mais em conta. A pessoa
responsável pela escola, costumava comprar o tecido de todas as turmas que era
obrigadas a desfilar, mas apesar disso, todos faziam com orgulho e prazer.
Nessa ocasião, faltou dinheiro e minha mãe foi pedir a essa pessoa que
comprasse o tecido de nossos fardamentos, mas eis que, apesar de proximidade
que tinha com a nossa família, veio a se negar, comprou a de todos os demais,
menos a nossa, porque minha mãe não havia adquirido o dinheiro. Mesmo assim,
como ela sempre foi uma pessoa de nunca desistir de seus filhos, muito menos de
nossa educação, fez de tudo, conseguiu dinheiro, adquiriu o tecido e no dia do
desfile, estávamos lá, prontos para mais uma vez desfilar, apesar da covardia
que essa pessoa chegou fazer com a minha mãe e a questão, é o fato de que, essa
pessoa era muito próxima da gente, mesmo assim, nunca esquecemos dessa covardia
que veio a fazer conosco nessa questão de adquirir o fardamento de todos os
demais alunos, menos o nosso, porque minha mãe só pediu para que ele comprasse
o fardamento que depois pagaria sem maiores problemas. Uma das qualidades que
minha mãe tinha na vida, era não pedir favor a ninguém, comprar fiado e se por
acaso viesse a dever a quem quer que fosse, jamais deixaria de pagar. Era uma
pessoa madeira de lei, de um caráter inigualável e uma mulher de fibra. Sem
ela, acredito, não seríamos o que somos hoje, apesar de termos aprendido
também, muito com o nosso pai, mas minha mãe, foi uma peça chave na formação do
caráter, tanto do meu, quanto de meus irmãos.
Só sei que esse fato, apesar de já me encontrar numa fase de
vida um tanto quanto elevada, nunca saiu de minha mente, é como se isso ainda
estivesse martelando em minha memória e eu fosse aquele pobre menino que gostava
de desfilar com orgulho, tanto no dia de emancipação política de Buíque, quanto
no dia de Independência do Brasil, em sete de setembro. Coisas que ficaram de
um passado não tanto distante assim, mas que não volta jamais, no entretanto,
jamais sairá de minha mente e irá para o túmulo comigo, com toda certeza.
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