Quando fui para o Estado
de São Paulo, em Ribeirão Pires, como já relatei noutras narrativas, fui
estudar na Escola Municipal Dom José Gaspar, que ficava vizinha à Matriz
principal daquela cidade que se não me engano, ainda faz parte da região
metropolitana daquele Estado. Lembro bem, que pela precariedade do que houvera
aprendido na Escola Duque de Caxias em Buíque, não fora o suficiente e por isso
mesmo, tive que repetir tudo lá naquelas plagas sulistas, mas não me fiz de
rogado, até por que, nem isso poderia ser em face do meu introspectivo
reprimido de um pobre maturo que saíra do Nordeste e foi parar naquela Selva de
pedra na década dos anos 60, para juntamente com minha família, tentar ganhar à
vida, mas estudei e comecei a tomar gosto pelos estudos, até pelo fato de ser
tratado com discriminação, preconceito e por isso mesmo, em face de por dentro de
mim, sempre remoer um certo desconforto de complexo de uma pessoa reduzida a
sua própria insignificância, mas nem por isso capitulei e tratei de levantar a
cabeça sem dar bolas para ninguém e busquei dar de mim o melhor que pude e isso
só podia fazer mesmo através dos estudos e fazer o meu próprio diferencial.
No meu recôndito na sala de aula, lembro bem, lá com meus
tenros doze para treze anos de idade, foi olhando em algumas bancas de vendas
de jornais, revistas e gibis, foi que procurei me interessar por gibis, as
famosos HQ’s (histórias em quadrinhos), aonde fui buscar a fonte de meu vício
em leitura. Com os trocados que meus pais me davam, sempre sobrava alguma coisa,
para poder vir a comprar algum gibi. Só sei que aos poucos fui me viciando em
ler gibis e não parava de comprar os mais famosos da época, que eram Mandrake,
Super-Homem, Fantasma, Tex, Zorro, Capitão Marvel, Tio Patinhas, Pato Donald,
Mickey, Pateta, entre outros que no momento não me vem à memória, mas que
procurava devorar todos eles em questões de pouco tempo. Ficava ansioso para
cada nova edição de cada gibi, que alguns eram semanais e outros, mensais, mas
me deleitava quando era publicada cada edição e colocada à venda nas bancas de
jornais e revistas. Com o passar do tempo, fui ampliando o meu gosto pela
leitura.
Foi aí que passei a ler José de Alencar, Graciliano Ramos,
Machado de Assis, José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz, Érico Veríssimo, Shakespeare,
Fiódor Dostoiévski, Ernest Hemingway, entre outros autores, passando a ler
também jornais e as famosas revistas Manchete e o Cruzeiro, as principais da
época. Posso dizer sem medo de errar, que o meu gosto pela leitura em si mesmo,
veio a partir do momento que passei a ler gibis. Para mim foi uma habitualidade
que se tornou extremamente proveitosa na minha época, porque me deu toda essa
estruturação de gosto pela leitura. Tem mais, como tinha muito gosto naquela
época, pelo desenho, comecei até a fazer um curso de desenho por
correspondência, no famoso Instituto Universal Brasileiro, que hoje com o
sistema de computação e os cursos oferecidos pela internet, essa modalidade de
curso por correspondência, praticamente se acabou, não mais existe, mesmo
assim, ainda cheguei a aprender a fazer algumas pinturas, a desenhar e cheguei
mesmo até a pensar em fazer Belas Artes, se tivesse permanecido em São Paulo, o
que veio a se desvanecer quando voltei à minha terra, meu velho cordão umbilical,
Buíque.
Aí os planos mudaram, mesmo assim, no Bar Arizona, em Buíque,
fui quem fiz o letreiro de frente do Bar, com o pomposo nome e em inglês,
ARIZONA BIG SALOON, como no Far West, por que foi uma época em que assistia
muito aos filmes rodados no famoso Cine Nevado de Jurandir de João Grosso, que
para assistir a um filme, a gente tinha que levar as cadeiras e era uma espécie
de seriados, em que semanalmente ou quinzenalmente a gente vinha a assistir
mais um capítulo em que ou a mocinha ou o mocinho, ficava numa situação de
perigo e ficávamos a imaginar, será que ela vai ser salva ou ele será salvo em
tempo suficiente do perigo iminente em que ficou no último capítulo? – Era o
mistério a alimentar nosso imaginário e motivo de comentários entre à meninada
juvenil. No Bar Azirona também, ainda cheguei a pintar um painel com tinta à óleo,
um casal de hippies numa floresta, que ficou um primor, mas nem sequer um binóculo
cheguei a guardar dessa minha obra de arte, que poderia para mim, ser uma
obra-prima na minha fase de pintura. Mas dos filmes, ficávamos mesmo na
ansiedade da chegada de mais um capítulo para chegarmos à conclusão se quem
tivesse ficado em situação de perigo seria saldo ou não, mas era emocionante se
assistir aos filmes daquela época, pior pela ansiedade criada pela mitigação de
partes que eram apresentadas, em capítulos.
Só sei que nessa questão de HQ’s, ainda cheguei a formar uma
grande coleção de gibis. Tinha um pequeno reservado em uma rústica e pequena
casa onde chegamos a morar já em São Paulo, capital, na Vila Ema, em que era
empaturrado de gibis. Tinha uma enorme coleção de todos eles e os guardava com
todo cuidado e carinho. Quanto vim de volta para Buíque, não sei por qual
razão, ou mesmo por questão de diminuição da bagagem, deixei minha preciosa
coleção de lado, que se existisse hoje em dia, para os ainda aficcionados apreciadores
de histórias em quadrinhos, estariam valendo ouro, mas posso dizer com toda
sinceridade, a leitura dos gibis, foi praticamente a força motivadora para que
eu tomasse gosto pela leitura. Tenho muitas saudades dos meus gibis e daqueles
tempos, que embora sofridos, a gente não esquece jamais e até de momentos
específicos, que permanecem incrustados em nossa mente e parecem até que é tudo
como num reprisar do mesmo filme a cada instante quando volvemos esse
importante e enriquecedor passado, embora de uma vida sofrida, mas que tudo
valeu à pena de ser vivido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário