Antigamente, acredito que
quando estava ainda em formação a nossa terra, Buíque e isso, pode ter
acontecido em outras idênticas comunidades que se formaram ao longo dos tempos,
que acontecia a mesma coisa: pessoas ficarem numa roda, em torno de uma
fogueira, do tipo um círculo de fogo, se aquecendo do frio da noite, ao mesmo
tempo em que, jogava conversa para fora. Isso nunca deixou de acontecer, até
mesmo na época de meus avós, na mocidade de meus pais, em que por algumas
circunstâncias, na inexistência de meios de comunicações sofisticados como os
de hoje, as pessoas por serem mais próximas umas das outras, vez por outra, se
reuniam na casa umas das outras, para conversar sobre o cotidiano da vida,
jogar conversa de histórias de trancoso, os milagres de Jesus, os santos milagreiros,
a doença que chegou a acometer e tirar à vida de algum conhecido e sobretudo,
as contas que cada um tinha que prestar, próximo ao final da vida, a Deus e coisas
do tipo. Conversas cruzadas também se ouvia sobre os feitos de malfeitores, de
Lampião e seu bando de cangaceiros, de outros boatos de lobisomens, de
papas-figos e invencionices que vagueavam à mentalidade predominante e criativa
daqueles idos em que, em muitas ocasiões, gente pequena, ou ia para à cama ou
rede logo cedo da noite, ou então só ficava a ouvir conversa de gente grande,
isso quando era permitido, porém sem dá um pio sequer, pois em conversa de
gente grande, pequenos não era se dava a ousadia de fazer uso da palavra.
Lembro bem de algumas reuniões de encontras de pessoas da
vizinhança em minha casa ou ao sairmos da casa da gente, para à casa de outros
amigos vizinhos, somente para jogar conversa fora, nada mais que isso. E o
interessante era que todos nós gostávamos desses encontros. Era algo novo,
diferente, puro, porém havia sinceridade nessa troca de informações que não
passava de conversas locais, das histórias imaginárias, dos fatos ocorridos na
própria cidade, dos boatos, das moças faladas, dos cachaceiros que faziam das
suas e aí tinha vez que esse tipo de conversa atravessava até depois da
meia-noite, que era hora de voltar andando à pés, às vezes até quilômetros,
numa escuridão de um negrume de breus, mesmo assim, era emocionante e
interessante esses tipos de encontros. Pior eram os monstros, os bichos que a
gente poderia encontrar no caminho de volta. Éramos reféns nesses idos,
tão-somente desses encontros singelos, também de festas de casamentos, que
demoravam em média três dias, de batizados, as festas de São João, São Pedro,
de final de ano. Eram tudo alegria e contentamento tais épocas que não voltam
jamais, mas éramos o que tínhamos naquele período lúdico e fugaz, que não mais
volverá no espaço e no tempo. Só mesmo de lembranças é que se poderá neles se
remexer, nada mais que isto.
Hoje vivemos presos, reféns não mais dessas conversas e
encontros singelos, puros, alegres e belos, mas sim, de um computador, uma
televisão ou de alguém que nos faz presa fácil, em muitos casos, fazendo de
pessoas, prisioneiras acorrentadas de corpos e mentes, sem poder de ter o
mínimo de liberdade de expressão, de agir e de pensar por conta própria, a
exemplo de quem vive de um empreguinho público qualquer, que por isso mesmo,
não pode sequer dizer o que sente e pensa, mas tem por obrigação em obedecer o
mandante ocasional, caso contrário, perde à boquinha, o ganha-pão, que por bem
ou mal, é o que sustenta à família. Parece que à medida que o tempo passa,
vamos ficando cada vez mais prisioneiros, reféns de alguém ou de alguma coisa,
algum impedimento obrigacional ou até mesmo por vício, em que não conseguimos
nos desvencilhar, por que senão, consequências poderão vir a afetar não somente
uma pessoa, mas uma família toda, porque existem instrumentos e cabeças
dominantes, que assim imaginam poder manipular uma parte de pessoas, como se
foram estas, reles coisas ou objetos sem valor algum até o momento que se tem
alguma utilidade, para em momento vindouro, quando valia alguma tiver, ser
descartada como algo imprestável e sem nenhuma validade prática de uso.
É dentro desse imbróglio em que se vive no mundo atual, que na
verdade é um grande círculo de fogo a nos aprisionar como reféns de nós mesmos,
em muitos casos, sem poder de agir e de pensar. As pessoas são prisioneiras de
alguma coisa. Não mais existe a liberdade de se visitar uma pessoa amiga, de
trocar ideias, de se expressar livremente, porque falar o que deve e o que
pensa, pode ser fatal para muita gente, daí que, melhor aceitar o que não acha
que deve, do que ser livre, dizer o que pensa e passar a agir livremente, se
amofinando com um covarde qualquer e se deixando dominar cada vez mais e se
tornando refém de uma fogueira em que só se faz mesmo é colocar lenha para ver
o circo pegar fogo, nada mais que isto. É este o mundo real em que estamos
vivendo nos dias atuais. O telurismo de antes, o tempo do bom-moço, da
ingenuidade, da simplicidade, ficou inerte, morreu no passado que um dia muitos
de nós ainda chegou a viver, ou pelo menos um ponta de tudo isso, que não mais
voltará, não tem preço que pague a ninguém. Viver de amarras ou acorrentado num
círculo de foro, não ficou para nós seres humanos de cabeças pensantes, só
mesmo para os asnos, imbecilóides e os que não têm vida e iniciativa próprias.
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