QUEM REALMENTE SOU

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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

REFÉNS DO CÍRCULO DE FOGO


 Antigamente, acredito que quando estava ainda em formação a nossa terra, Buíque e isso, pode ter acontecido em outras idênticas comunidades que se formaram ao longo dos tempos, que acontecia a mesma coisa: pessoas ficarem numa roda, em torno de uma fogueira, do tipo um círculo de fogo, se aquecendo do frio da noite, ao mesmo tempo em que, jogava conversa para fora. Isso nunca deixou de acontecer, até mesmo na época de meus avós, na mocidade de meus pais, em que por algumas circunstâncias, na inexistência de meios de comunicações sofisticados como os de hoje, as pessoas por serem mais próximas umas das outras, vez por outra, se reuniam na casa umas das outras, para conversar sobre o cotidiano da vida, jogar conversa de histórias de trancoso, os milagres de Jesus, os santos milagreiros, a doença que chegou a acometer e tirar à vida de algum conhecido e sobretudo, as contas que cada um tinha que prestar, próximo ao final da vida, a Deus e coisas do tipo. Conversas cruzadas também se ouvia sobre os feitos de malfeitores, de Lampião e seu bando de cangaceiros, de outros boatos de lobisomens, de papas-figos e invencionices que vagueavam à mentalidade predominante e criativa daqueles idos em que, em muitas ocasiões, gente pequena, ou ia para à cama ou rede logo cedo da noite, ou então só ficava a ouvir conversa de gente grande, isso quando era permitido, porém sem dá um pio sequer, pois em conversa de gente grande, pequenos não era se dava a ousadia de fazer uso da palavra.
  Lembro bem de algumas reuniões de encontras de pessoas da vizinhança em minha casa ou ao sairmos da casa da gente, para à casa de outros amigos vizinhos, somente para jogar conversa fora, nada mais que isso. E o interessante era que todos nós gostávamos desses encontros. Era algo novo, diferente, puro, porém havia sinceridade nessa troca de informações que não passava de conversas locais, das histórias imaginárias, dos fatos ocorridos na própria cidade, dos boatos, das moças faladas, dos cachaceiros que faziam das suas e aí tinha vez que esse tipo de conversa atravessava até depois da meia-noite, que era hora de voltar andando à pés, às vezes até quilômetros, numa escuridão de um negrume de breus, mesmo assim, era emocionante e interessante esses tipos de encontros. Pior eram os monstros, os bichos que a gente poderia encontrar no caminho de volta. Éramos reféns nesses idos, tão-somente desses encontros singelos, também de festas de casamentos, que demoravam em média três dias, de batizados, as festas de São João, São Pedro, de final de ano. Eram tudo alegria e contentamento tais épocas que não voltam jamais, mas éramos o que tínhamos naquele período lúdico e fugaz, que não mais volverá no espaço e no tempo. Só mesmo de lembranças é que se poderá neles se remexer, nada mais que isto.
 Hoje vivemos presos, reféns não mais dessas conversas e encontros singelos, puros, alegres e belos, mas sim, de um computador, uma televisão ou de alguém que nos faz presa fácil, em muitos casos, fazendo de pessoas, prisioneiras acorrentadas de corpos e mentes, sem poder de ter o mínimo de liberdade de expressão, de agir e de pensar por conta própria, a exemplo de quem vive de um empreguinho público qualquer, que por isso mesmo, não pode sequer dizer o que sente e pensa, mas tem por obrigação em obedecer o mandante ocasional, caso contrário, perde à boquinha, o ganha-pão, que por bem ou mal, é o que sustenta à família. Parece que à medida que o tempo passa, vamos ficando cada vez mais prisioneiros, reféns de alguém ou de alguma coisa, algum impedimento obrigacional ou até mesmo por vício, em que não conseguimos nos desvencilhar, por que senão, consequências poderão vir a afetar não somente uma pessoa, mas uma família toda, porque existem instrumentos e cabeças dominantes, que assim imaginam poder manipular uma parte de pessoas, como se foram estas, reles coisas ou objetos sem valor algum até o momento que se tem alguma utilidade, para em momento vindouro, quando valia alguma tiver, ser descartada como algo imprestável e sem nenhuma validade prática de uso.
  É dentro desse imbróglio em que se vive no mundo atual, que na verdade é um grande círculo de fogo a nos aprisionar como reféns de nós mesmos, em muitos casos, sem poder de agir e de pensar. As pessoas são prisioneiras de alguma coisa. Não mais existe a liberdade de se visitar uma pessoa amiga, de trocar ideias, de se expressar livremente, porque falar o que deve e o que pensa, pode ser fatal para muita gente, daí que, melhor aceitar o que não acha que deve, do que ser livre, dizer o que pensa e passar a agir livremente, se amofinando com um covarde qualquer e se deixando dominar cada vez mais e se tornando refém de uma fogueira em que só se faz mesmo é colocar lenha para ver o circo pegar fogo, nada mais que isto. É este o mundo real em que estamos vivendo nos dias atuais. O telurismo de antes, o tempo do bom-moço, da ingenuidade, da simplicidade, ficou inerte, morreu no passado que um dia muitos de nós ainda chegou a viver, ou pelo menos um ponta de tudo isso, que não mais voltará, não tem preço que pague a ninguém. Viver de amarras ou acorrentado num círculo de foro, não ficou para nós seres humanos de cabeças pensantes, só mesmo para os asnos, imbecilóides e os que não têm vida e iniciativa próprias.

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