O
MENINO E O VELHO
Certa feita, num
determinado entardecer, já no ocaso do Sol, estavam a conversar, sentados numa
calçada de uma casinha rústica de uma esquina de uma cidadezinha e, pelo visto
a conversa era proveitosa, por que o menino atento perguntava, o senhor idoso no
mesmo interesse, respondia com atenção e fazendo gesticulações, muitas vezes
até levantava ou baixa a voz, como querendo deixar tudo bem esclarecido para o
atento meninote.
Estava a observar de longe. Com pouco tempo aproximei-me e
passei a ouvir a conversa dos dois. Tudo girava entre a vida de ambos. Um
queria saber o porquê de envelhecer e não permanecer feito um menino a vida
inteira, ou então, crescer, adquirir conhecimento e aí então, para a vida, como
se fora uma imagem pausada e aí permanecer para sempre. Curioso, o menino de
tudo querida saber. Indagava ao velhote, com avidez própria da idade, perguntas
até sem alguma lógica, mas estava curioso para saber de tudo sobre à vida de
quem já tinha vivido o bastante, talvez lá na casa de seus setenta anos ou mais,
para saber o bastante para poder responder a tudo que o menino lhes perguntava.
Primeiramente, quis o menino saber, como é que a gente vinha
ao mundo. O velho, sem pestanejar, respondeu pensativo, como que buscando uma
resposta sábia lá no fundo e disse: bem, filho, a gente vem ao mundo pela
vontade de Deus! – Não evidenciou o coito sexual para enfatizar a genética
humana, certamente por achar desnecessário menino saber dessas coisas. – Vive sobre
o seu manto e envelhece porque Ele quer.
– Veio a segunda pergunta: e por que a gente
envelhece?
– Isso também, filho, é a vontade de Deus,
porque para quem não envelhece é porque passou pela vida e não chegou a
envelhecer, não viveu o suficiente. Você mesmo, tão jovenzinho, se acaso
conseguir vencer as muitas barreiras da vida, com certeza, chegará a viver os
mesmos anos que vivi ou mais ainda, e ainda estou aqui vivinho da silva e
falando da vida para você. Aí, ainda sedento de curiosidade, indagou o menino
ao velho: mas se o senhor está nessa idade, ainda vai viver ou morrer?
-Prontamente respondeu o
velho, pausadamente, com um ar de profunda tristeza, mas sempre dentro da
realidade que lhe batia à porta e respondeu: a questão filho, é que vivi todo
esse tempo, que na verdade, a gente nem ao menos percebe que passou, mas ainda
estou vivo e, claro, pretendo ainda viver e aprender muito mais sobre o mundo e
a vida. Respondeu como quem fora buscar inspiração lá de dentro de sua
sabedoria, mas que tinha esperança, apesar da idade, de viver alguns anos ou
então nunca vir a morrer, mas que seu objetivo era viver sem se entregar, disso
ele não tinha a menor dúvida.
Com essa resposta o menino começou a falar com tudo aquilo
que ouvira naquele momento: Sei não, senhor, a gente nasce, vive essa fase de
criança boba como eu mesmo, por isso é que estou querendo aprender mais da vida
com o senhor. O que não me entra na caixola, na cabeça, é a gente levar uma
vida de sofrimento, de dureza, enfrentando tantas asperezas, frustrações,
desesperanças, se esforçar tanto para ser alguma coisa e no final ainda tem que
morrer? – Disse-lhe o menino sem nada disso ter vivido ou passado, mas
certamente já conhecia de per si, em face das pessoas mais próximas que com ele
viviam.
- Que vida da porra é
essa, meu velho? – Quer dizer que só prestamos para morrer, nada mais que isso?
-Filho, interrompeu o
velho: não é bem assim! – No decurso da vida, a gente, apesar de ser tão curta
para tantas coisas que a gente vê pela frente, a vida não se resume a isso não!
O viver só tem importância para quem sabe fazer desse curto espaço de tempo uma
eternidade de viver, por isso mesmo, é que sempre dizemos que a vida é eterna,
senão em nós mesmos, pelo menos em você, menino, que vai continuar quando de
minha partida! Basta você aprender o que não consegui aprender o bastante na
vida, buscar ser decente, honesto, sincero, humilde, ter um bom caráter,
decência, buscar servir sem ser servido, que sua vida com certeza estará
completa e aí, você, a exemplo de mim, pode partir para outra, satisfeito de
que sua missão enquanto sua vida durou, estará cumprida, pois é assim mesmo que
é a vida de cada um de nós animais racionais pensantes. Não há como mudar os
rumos desta vida, pois vivemos um ciclo que sempre se repete, mas pela lógica,
seria uma repetição sempre renovada para melhor e não como vem acontecendo nos
dias atuais, que pelo visto, as coisas estão vindo pioradas, e isso não é nada
bom para o destino da humanidade.
Já na boquinha da noite, apertou a mão do idoso, que ainda
continuou sentado em sua calçada e seguiu o seu caminho pensativo, porém
indagativo a si mesmo:...É, viver pelo visto não é nada fácil, mas àquele
velho, me fez ver que é preciso a gente buscar viver com decência, aprender
para ter conhecimentos e, tendo-os, levá-los para as outras pessoas e viver uma
vida a lhes dar a devida importância, enquanto esta durar, porque nesse liame
limitativo do viver, o que existe de mais importante a se fazer para que as
outras pessoas sempre alimentem a esperança de que, apesar de que um dia se vai
morrer, mesmo e ainda assim, viver é preciso, como uma barca em alto mar, que
para se dar o devido impulso, navegar é preciso.

Nenhum comentário:
Postar um comentário