Quando criança, tinha muito medo da
noite. Não por que as noites eram medonhas, monstruosas, mas nas brenhas do
Sítio Cigano, os adultos nos davam a entender que as noites nos metiam medo
mesmo! – Tinham bichos monstruosos rondando nosso casebre chinfrim; tinha
fagos-fátuos rondando nossa casa, como fantasmas esvoaçantes e andar pelas
brenhas noturnas, além dos duendes que estavam prontos nos pés de nossa cama ou
rede, só para puxar nossos pés, até nos acordar para nos meter medo.
Lembro hoje dos tantos anos que passaram
e não raras vezes, me vem e voltam àquelas visões tenebrosas das noites escuras
como breu. Era uma escuridão de nos fazer perder o sono de tanto medo. Pior era
se falar em papas-figos, bicho-papão e os bichos que andavam a perambular como
zumbis, pelas noites escuras e frias. E pior ainda, era quando chovia
torrencialmente, aí sim, é que o medo era de arrepiar mesmo!
Meus medos se foram! – Nem tanto. Embora
não acredite assim nesses bichos pintados e desenhados por meu pai e minha mãe,
naquelas caatingas do Sítio Cigano, acredito que ainda sinto um pouco de medo
da noite. Talvez ainda conviva com alguns dos fantasmas daqueles tempos de
menino pobre, barrigudo e lombriguento. Era a vida. Fazer o que. Pobreza absoluta.
Carne, arroz, feijão, só comia nos dias de sábados, que era o dia da feira
livre de Buíque, assim mesmo se meu pai acertasse o caminho de volta. Acredito
que ele, era um tanto quanto desiludido com a vida, mas não reclamava. Tomava
suas talagadas (mal de família!), gostava de rir bastante e de ser pilherento
com outras pessoas. Era do tipo gozador. Só ficava brabo mesmo, quando estava
com o quengo meio quente, mas não era pessoa afeita a provocações ou brigas.
Gostava de respeito e de ser respeitado. Seu único defeito era ser pobre, mesmo
assim, por ser de família conhecida, tinha consideração pelo povo buiquense,
afinal de contas, era filho de Mané Modesto, meu avô, pessoa de muito respeito
em Buíque, mas era muito educado, calmo, falava pausadamente e no respeitante
ao bom português.
Leitura não tinha, mas pelo visto, os
mais antigos, tinham mais gosto pela leitura e em aprender. Bastava saber
escrever uma carta, pronto, já podia dizer uma pessoa formada para a vida. Hoje
não é bem assim. O sujeito faz um curso superior e não aprende absolutamente
nada. Nem mesmo escrever a palavra “conserteza”, (com certeza).
Mas voltando ao meu medo do escuro, na
realidade, o que mais me mete medo mesmo, é ficar só, me sentir na solidão e
abandonado. Isso sim, é que me dói na alma, no tanto lá sei quanto de vida que
me resta, será que o termo é o restante ou a sobra? – Bem, ou uma coisa ou
outra, só sei que vai dar na mesma porcaria e o que nos espera mesmo, é só um
buraco de sete palmos, a menos que a salvação nos apareça para nos tirar dessas
malditas tentações que de ruim a vida tem nos oferecido, esta é a mais pura
realidade.
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