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terça-feira, 24 de outubro de 2017

A NOITE CHEGA, O MEDO ME DOMINA


        Quando criança, tinha muito medo da noite. Não por que as noites eram medonhas, monstruosas, mas nas brenhas do Sítio Cigano, os adultos nos davam a entender que as noites nos metiam medo mesmo! – Tinham bichos monstruosos rondando nosso casebre chinfrim; tinha fagos-fátuos rondando nossa casa, como fantasmas esvoaçantes e andar pelas brenhas noturnas, além dos duendes que estavam prontos nos pés de nossa cama ou rede, só para puxar nossos pés, até nos acordar para nos meter medo.
         Lembro hoje dos tantos anos que passaram e não raras vezes, me vem e voltam àquelas visões tenebrosas das noites escuras como breu. Era uma escuridão de nos fazer perder o sono de tanto medo. Pior era se falar em papas-figos, bicho-papão e os bichos que andavam a perambular como zumbis, pelas noites escuras e frias. E pior ainda, era quando chovia torrencialmente, aí sim, é que o medo era de arrepiar mesmo!
      Meus medos se foram! – Nem tanto. Embora não acredite assim nesses bichos pintados e desenhados por meu pai e minha mãe, naquelas caatingas do Sítio Cigano, acredito que ainda sinto um pouco de medo da noite. Talvez ainda conviva com alguns dos fantasmas daqueles tempos de menino pobre, barrigudo e lombriguento. Era a vida. Fazer o que. Pobreza absoluta. Carne, arroz, feijão, só comia nos dias de sábados, que era o dia da feira livre de Buíque, assim mesmo se meu pai acertasse o caminho de volta. Acredito que ele, era um tanto quanto desiludido com a vida, mas não reclamava. Tomava suas talagadas (mal de família!), gostava de rir bastante e de ser pilherento com outras pessoas. Era do tipo gozador. Só ficava brabo mesmo, quando estava com o quengo meio quente, mas não era pessoa afeita a provocações ou brigas. Gostava de respeito e de ser respeitado. Seu único defeito era ser pobre, mesmo assim, por ser de família conhecida, tinha consideração pelo povo buiquense, afinal de contas, era filho de Mané Modesto, meu avô, pessoa de muito respeito em Buíque, mas era muito educado, calmo, falava pausadamente e no respeitante ao bom português.
        Leitura não tinha, mas pelo visto, os mais antigos, tinham mais gosto pela leitura e em aprender. Bastava saber escrever uma carta, pronto, já podia dizer uma pessoa formada para a vida. Hoje não é bem assim. O sujeito faz um curso superior e não aprende absolutamente nada. Nem mesmo escrever a palavra “conserteza”, (com certeza).

      Mas voltando ao meu medo do escuro, na realidade, o que mais me mete medo mesmo, é ficar só, me sentir na solidão e abandonado. Isso sim, é que me dói na alma, no tanto lá sei quanto de vida que me resta, será que o termo é o restante ou a sobra? – Bem, ou uma coisa ou outra, só sei que vai dar na mesma porcaria e o que nos espera mesmo, é só um buraco de sete palmos, a menos que a salvação nos apareça para nos tirar dessas malditas tentações que de ruim a vida tem nos oferecido, esta é a mais pura realidade.

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