Diziam os mais antigos de Buíque, como que numa
profetização, que iria chega um período em que teríamos três dias e três noites
de profunda escuridão e, nesse interstício temporal, o sobrenatural tomaria
conta de Buíque, que durante as noites, os pecadores de todos os matizes,
àqueles amancebados, os maus pagadores, os criminosos, os maldosos iriam para
pagar os seus pagados, “correr bicho”, ou seja, se transformarem em bichos
infernais e todos iriam queimar no fogo incandescente do Inferno. Era algo em
que o povo acreditava mesmo, até os que se diziam esclarecidos da mesma forma.
No mundo de hoje parece até piada, mas era isso mesmo que acontecia e muitos
religiosos da Igreja Católica temiam de verdade esse a chegada desse dia.
Não é à toa que muitos procuravam levar à Igreja folhas de
coqueiro baié para que o padre benzesse e que deveria ser colocado em todas as
portas das casas dos seguidores do catolicismo, para se protegerem e os bichos
não entrarem em suas casas para não comê-los vivos. Aqui está se falando em
comer de verdade, não no sentido figurado, porque os bichos seriam os mais
ferozes e horríveis possíveis. Era como se o Inferno tivesse aberto as suas
portas e tivesse surgido em Buíque, para os pecadores pagaram finalmente, pelos
seus pecados. Seria uma espécie de tríduo da escuridão do juízo final somente
em nossa terra.
Pior é que o povo levava essa “profecia” à sério mesmo e a
gente percebia muita gente, principalmente da zona rural e da pequena periferia
de Buíque, bem como do centro da cidade, com as cruzes de palha de coco
pregadas em suas portas. Era inacreditável mais era a mais pura realidade.
Tinha mais, isso saía inclusive das missões. Lembro bem, de Frei Damião com
Frei Fernandes, porque tudo que eles pregavam o povo acreditava que era
verdadeiro, a exemplo de outros padres seus discípulos que não deixavam de lembrar-se
dos pecadores e das três noites de escuro que Buíque esperava para castigar os
pecadores e maus.
Nessas últimas duas noites em que faltou energia em Buíque
por mais de três horas consecutivas, o que é um inferno com o calor e as
muriçocas a atanazar a vida do cabra, foi que me veio à mente essa questão das
três noites de escuro em que os pecadores seriam transformados em monstros,
bichos e iriam correr o Município afora, para eliminar, comer os pecadores de
todos os matizes e por isso mesmo, tudo isso me metia medo também, porque ainda
criança, minha mãe católica de carteirinha, também não deixava de forma alguma
de colocar as suas cruzes de palha de coqueiro, bentas pelo sacerdote da Igreja
Católica, justamente para se livras dessa maldita três noites de escuridão, que
se incutia na cabeça do povo buiquense, que iríamos ter que enfrentar. Era
questão de tempo, mas que elas viriam, todos os crédulos tinham plena certeza.
Por isso mesmo, se hoje for mais uma noite de escuro provocada pela inércia da
Celpe, com certeza poderá ser concretizada a profecia dos mais antigos. Então
minha gente, que cada um procure buscar a sua cruzinha benta de palha de
coqueiro, para não permitir que os pecadores buiquenses que serão transformados
em monstros, não adentrem em seus lares para lhes fazer de comida. Fica dada a
dica!
O pior mesmo é que se alguém reparar, ainda existem pessoas
mais humildes que ainda usam esse tipo de cruz benta em suas portas, é só
reparar.
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