PASSANDO A LIMPO
– SÉRIE BLOG ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO
SÉRIE BLOG DE
ENTREVISTAS
O seriado de entrevistas do nosso Blog,
hoje tem a grata satisfação de publicar uma entrevista de um dos fundadores do
GRUPO DE LEITORES CYL GALLINDO, Werlles Freire Calado, ocorrida aqui mesmo em
Buíque, no dia 16.09.2014, por volta das 14h00. Cyl é natural de Buíque,
nascido em 28.05.1935 e falecido em 04.02.2013, na cidade de João Pessoa. Cyl
Galindo viveu a sua infância em Buíque, e a maior parte de sua vida, onde viveu
e se preparou para sua vida e sempre teve o seu gosto voltado para a literatura.
Formou-se em Ciências Sociais pela UFPE, era jornalista, contista e cronista
brasileiro. Em suas atividades profissionais, foi redator do Jornal do
Commercio, no Diário de Pernambuco e Jornal da Cidade, em Recife, foi editor do
Francachiela, Buenos Aires e Assessor de Comunicação do Senado Federal, onde
trabalhou por longos anos e veio a se aposentar. Autor de um grande acervo de
obras, tem em torno de 16 (dezesseis) livros publicados e, sempre que podia,
dava um pulo em sua terra, que ele chamada de “seu cordão umbilical”, e tinha como meta, sempre incentivar à
nossa juventude para levantar movimentos de cunhos culturais na sua e nossa
cidade, Buíque. Conheci Cyl Gallindo, há muitos anos e tive vários encontros
com ele em Recife, no seu apartamento, onde morava em Boa Viagem. Das vezes que
veio à Buíque, uma delas ficou hospedado em minha residência, noutras, na
Pousada Santos, de Dedinho, mas era um grande entusiasta para que Buíque viesse
a se sobressair nas artes e na cultura. Imaginando em manter a sua obra viva, é
que Werlles Freire Calado com outras pessoas, resolveram fundar o grupo. Então
minha gente, vamos à entrevista do nobre amigo, que preocupado com à cultura de
nossa querida Buíque, teve juntamente com seus colegas a criatividade, em
fundar esse grupo, com o objetivo de incentivar nossa cultura adormecida e
manter viva a imagem de nosso escritor Cyl Gallindo. Vamos então às perguntas:
P - MM– Amigo Werlles o que motivou, você e os demais
integrantes, a fundarem esse Grupo Cyl Gallindo de Leitores?
R – WF – Olha a gente, já tinha vontade de
fazer alguma coisa pela nossa cidade; a gente já vinha se reunindo em minha
casa com a finalidade de fazer alguma coisa em termos cultuais. Daí foi que uma
das integrantes do grupo, Joseane Cavalcanti, levou Cyl Gallindo na minha casa para
uma visita. Nós não conhecíamos ele, nem eu, nem minha esposa. Aliás, quase
ninguém de Buíque o conhecia. Por isso mesmo, nesse dia da visita, nós
conversamos sobre vários assuntos, de todos os temas possíveis, foi quando ele
convidou o nosso grupo, para conversar e nos encontramos no SESC, sendo a
partir daquele momento, que ele demonstrou essa preocupação com a nossa cidade
que não estava se desenvolvendo cultural e socialmente. Falando várias frases
de incentivo, dando exemplos vários, entre outras coisas. Em um segundo
momento, ele nos convidou, a mim e a minha esposa, Fabiana, a fazer uma visita
à casa dele, em Recife e nós ficamos dois dias em seu apartamento. A princípio
a gente foi para ver o que ele tinha para nos dizer e tínhamos como objetivo,
fazer uma monografia sobre ele. Fizemos uma entrevista para coletar
informações, como uma das primeiras coisas nesse contato, mas em face de sua
morte, não mais fizemos outras entrevistas. Nesse meio tempo, trocamos muitos
e-mails e nosso estreitamento de ligação foi cada vez mais se tornado forte. A
motivação principal foi ele mesmo que em vida, nos motivou.
P – MM – No momento,
o Grupo tem quantos membros e quantas vezes se reúne por mês?
R – WF – Atualmente nós temos oito membros no
Grupo e as reuniões, depende da pauta que se tem para discutir. Às vezes a
gente se reúne cerca de duas vezes por semana, quando se tem alguma ideia
inovadora em pauta para se discutir. Independentemente de qualquer coisa, a
gente sempre está em contato permanente sobre o que se tem, o que fazer e sobre
as obras de Cyl Gallindo. Atualmente as reuniões estão sendo mais constantes
porque nós estamos trabalhando para realizar o próximo EXPRESSA BUÍQUE, no
caso, o II, pois já realizamos o primeiro.
P – MM – E o
que vem a ser esse Expressa Buíque, e qual o seu objetivo e significado para o
movimento cultural buiquense?
R – WF – Esse evento surgiu de uma ideia
inicial de um dos integrantes, que é Alex Soares, do Matutano Reegae. Ele
pretendia realizar algum tipo de evento cultural em nossa cidade e ele pediu
que essa ideia fosse amadurecida dentro do grupo. Daí foi que nas conversas
surgiram várias ideias, e desses ideias, surgiu a principal, que é a de
valorizar a cultura local. O Expressa Buíque, foi concebido para dar espaço
prioritário aos artistas de nossa cidade, onde no nosso primeiro evento teve a
participação dos índios Kapinawás, Grupos de Danças, Banda de Pífanos,
declamação de poesias de vários poetas do próprio lugar e apresentações
musicais. Tinha um momento aberto para quem quisesse cantar, se expressar,
declamar alguma poesia. Essa era a ideia principal. Para o II Expressa Buíque,
estamos realizado um senso cultural em nossa cidade, para descobrirmos as
potencialidades que o município tem, em relação à cultura. Nós estamos bem no
início do censo, que o município é rico culturalmente, só não tem espaço para
se desenvolver e se firmar culturalmente. O evento está programado para
acontecer em dezembro, sem data definida. Comentário...?- Isso é bom e positivo
para a nossa gente e nossos valores...
P – MM – Você
e o Grupo Cyl Gallindo, tem encontrado algum empecilho nessa caminhada e há
quanto tempo existe o grupo formado?
R – WF -.O maior empecilho que a gente tem encontrado é a falta
de apoio, tanto da iniciativa privada, e principalmente da pública. Quando a
gente quer fazer alguma coisa, tem que tirar à duras penas, dos próprios
bolsos, senão nada acontece. O Grupo foi fundado ainda quando Cyl era vivo, lá
por volta de agosto de 2012 e o mesmo, era acompanhado pelo próprio Cyl em
vida, inclusive, ele queria fazer uma reunião com a gente, mas quando veio a
adoecer, não deu mais para ele ver o que a gente estava fazendo sobre o nome
dele e a sua obra. Ele não tinha conhecimento de que o nome teria sido uma
homenagem a ele, fato que iríamos noticiar, quando ele viesse à Buíque, mas
veio a saber duas semanas antes de adoecer.
P – MM – Você
e o Grupo tem o devido conhecimento da obra de Cyl Gallindo e qual o tema e
aprofundamento literário por ele adotado?
R – WF -.A primeira coisa que a gente fez foi adquirir a
obra dele, menos o primeiro, que nem o próprio possuía sequer mais um exemplar.
É uma coisa rara. Nem na internet a gente conseguiu encontrar. A gente fazia o
seguinte, cada integrante escolhia um livro, levara para casa e depois que cada
um lia o livro escolhido, nos reuníamos para discutir sobre os temas abordados
na literatura de Cyl Gallindo. Ela abordava mais temas sociais. Por exemplo, o
livro A Conservação do Grito Gesto, é um livro de poemas, onde o autor
transmite os seus sentimentos interiores em confronto com o mundo social em sua
volta. Existem vários outros livros de contos. Nos contos dele, ele falava
muito mais de relações familiares, a identidade das pessoas, crises
existenciais, próprias dos seres humanos, um deles mais notáveis, que li, foi
“As Galinhas do Coronel”. Eu achei que ele escreveu sobre as experiências de
vida que ele teve quando criança. Ele mesmo me falou, que o processo criativo
dele se dava de forma espontânea. Ele não fazia esforço para surgir uma ideia,
ela aparecia de forma livre e espontânea. Como ele era sociólogo, a maioria de
seus escritos era relacionados à sociedade.
P – MM – Você
sabe dizer quantos livros ele escreveu, se tem alguns deles traduzidos para
outras línguas e a extensão de sua obra, pode me falar?
R – WF- Ele valoriza muito a língua
portuguesa, mas teve algumas obras traduzidas para o espanhol, o holandês e o
romeno, que não chegou a ser publicado, mas apenas um pedido que chegou para
ele. Entre livros que ele organizou e escreveu, acredito que foram em torno de
16, sendo somente 06 de sua autoria. Ele sofria muito, o que a maioria dos
escritores brasileiros sofrem, que é a falta de interesse pela literatura,
assim como muitos também, em não ser reconhecido pelo que faz em termos de
literatura. A gente como um grupo de leitores, queremos contornar esse velho
ditado de que “santo de casa não obra
milagre”, porque é quase uma via de regra, qualquer artista, cantor,
pintor, escritor, não ser valorizado, nem mesmo em sua cidade. Cyl Gallindo
teve reconhecimento fora de sua cidade natal e o Grupo de Leitores Cyl Gallindo
quer, é justamente o reconhecimento de sua gente e o encontro com o seu legado
de exímio escritor. Ele foi a motivação para o grupo e a partir dele, é que
queremos que seja valorizado através do nosso trabalho de motivação, as outras
vertentes culturais e potencialidades artísticas de nossa gente. Até por que a
cultura, ela ajuda o ser humano a ter mais um senso crítico sobre o que está
fazendo, tudo isso proporcionado pela leitura, coisa que quase ninguém faz aqui
em Buíque, o que é uma vergonha para nossa gente.
P – MM – O
Grupo Cyl Gallindo de Leitores, é voltado tão-somente para à leitura ou para
outras vertentes de expressões culturais?
R – WF-.A nossa base principal é a leitura, mas como todo
bom leitor, somos amantes da cultura em geral. À exemplo de música, teatro,
dança, cultura popular. Enfim, um dos focos do grupo, é ajudar ao Município a
despertar o interesse também por essas vertentes de expressões culturais,
procurando dar vida ou levantar uma cultura adormecida. A cultura, pelo
comodismo, e determinados modismos, está sendo deixada de lado, em detrimento
da cultura sadia e formadora de corpos e mentes. A gente vê nas culturas de
massas, a dispersão de nossas culturas locais, em face até mesmo de falta de
apoio e de interesse das pessoas do próprio lugar. Então é preciso fazer um
trabalho voltado para acordar a nossa gente e perceber que temos uma riqueza
ímpar de cultura, que ninguém está vendo, que é justamente um dos objetivos do
Expressa Buíque.
P – MM – Você
e o grupo tem conhecimento de alguma outra pessoa que foi importante para a
nossa formação cultural, daqui mesmo de Buíque, quer na escrita ou no mundo
jurídico?
R – WF- Aqui, pelo que sei, existiram muitos
movimentos culturais, como samba de coco, grupo dos quilombolas, dos
zabumbeiros...Os Kapinawás tem muitas expressões culturais de sua própria
gente. De expressão cultural de nossa própria terra, não tenho conhecimento,
mas apenas de Graciliano Ramos, que mesmo sendo alagoano de Quebrangulo, aqui aprendeu
as primeiras letras e retratou o Buíque da época, através de seu livro Infância
e o fez com muita propriedade. Os Quilombolas, estão querendo resgatar essa
tradição cultural. Hoje (16.09.2014) está chegando em Buíque o acervo cultural
de Cyl Gallindo, em torno de 5 mil livros, que o filho dele, Pablo, doou para
Buíque. Só queremos ficar de olhos abertos para que essa relíquia não venha a
ser desperdiçada inutilmente, mas sim, utilizada para a motivação cultural que
nos propomos a atingir e que temos como objetivo maior.
P – MM – A
nossa Biblioteca tem suporte suficiente para receber todo esse acervo de Cyl
Gallindo? ...E como ele chegou a ser membro da APL – Academia Pernambucana de
Letras?
R – WF- A princípio o que foi dito pra gente é
que esses livros ao chegar em Buíque, ficariam arquivados, para ser utilizados
após uma reforma na Biblioteca. Informações dadas por Blésman, Secretário de
Cultura, foi o que ele nos repassou. O que a gente pode fazer como um Grupo, é
acompanhar a preservação desse acervo e cobrar os devidos cuidados para a sua
manutenção integral. Existem vários desses livros que foram autografados de
outros amigos escritores recebidos de presentes por ele, a exemplo de um Manuel
Bandeira, entre outros tantos. Fez parte da história dele, daí a sua
importância. O carro que foi buscar esse acervo, estava acompanhado por dois
integrantes do grupo, para observar o transporte de João Pessoa, onde se
encontrava na casa de Pietro, sobrinho de Cyl Gallindo, para ser transportado
para Buíque. Ele já fazia parte da Academia de Letras do Brasil. Na Academia
Pernambucana, existe um vídeo no You Tube, em que ele agradece a todos pelo
reconhecimento dele, para fazer parte daquela instituição de letras de
Pernambuco.
P – MM – Como membro desse novo grupo de Leitores de Cyl
Galindo, que recado, que mensagem você tem para a nossa gente e nossa juventude?
R – WF- Digo que, a gente não pode perder a
esperança de ter um Buíque melhor, tanto cultural, quanto socialmente falando.
Espero que esse Grupo ainda possa fazer muita coisa por nosso Município, tendo
como base os anseios de Cyl Gallindo, nossa maior fonte de inspiração. Que esse
trabalho que a gente vem desenvolvendo, venha a ser reconhecido pelos poderes
públicos, que possa nos ajudar nessa empreitada, no sentido da gente melhorar
em termos de cultura e de conhecimento do nosso povo, a nossa gente e a nossa
juventude. Nosso objetivo maior é fazer com a nossa cultura adormecida venha a
ressurgir, se fortalecer e se firmar como fonte de libertadora de nossa gente e
de nossa juventude.
Pois bem minha gente, mais uma
quinta-feira, mais uma excelente entrevista, dentro daquilo que nos propusemos
a fazer em nossa SÉRIE BLOG DE ENTREVISTAS COM MANOEL MODESTO, sempre buscando trazer mais informações
para o nosso povo, nossa gente e, em especial, com o intuito de despertar em
nossos jovens, o interesse pela busca incessante por uma vida melhor, para que
se dediquem com mais afinco e determinação para se conseguir uma formação de
vida digna, com uma boa educação de qualidade, uma boa cultura de nível, para
que, dotados de tais qualificativos, virmos a ter um senso crítico de liberdade
para o alcance de um Buíque e de um mundo melhor. E pelo que pude observar do
decorrer da entrevista gentilmente concedida pelo nosso amigo Werlles, o GRUPO
DE LEITORES CYL GALLINDO, veio com a responsabilidade de procurar resgatar
vários valores culturais de nossa terra e manter viva a imagem de um dos
grandes mestres das letras nascido nesta terra de barrigas-pretas, que a gente
tanto ama. Por isso mesmo, é que como o mentor e gestor deste Blog, quero
parabenizar o Grupo, que por sinal não conhecia de perto e, por isso mesmo, o
interesse de conhecer melhor essa gente que esta empenhada em belos e puros
objetivos para a nossa gente, me dispondo nesta ocasião da mesma forma, para
ajudar, contribuir com o meu conhecimento, naquilo que for necessário para que
juntos, unidos, possamos também, despertar a nossa gente para acordar desse
berço esplêndido de nossa tão rica cultura, ao mesmo tempo em que, aproveito
mais uma vez para fazer um apelo aos poderes constituídos, para que nos deem a
devida ajuda das quais precisamos para levar adiante, alavancar, não somente o
projeto apresentado por esse grupo, mas também, para quaisquer que sejam outras
manifestações de cunho culturais de nosso município, para que assim, venhamos a
nos inserirmos como verdadeiros cidadãos de Buíque e do mundo. Meus
agradecimentos a Werlles, sua esposa Fabiana, que fez uma Monografia focada na
obra de Cyl Gallindo, aos membros do grupo, por ter me dado o privilégio de
poder vir a conhecer melhor esse importante grupo cultural buiquense. Todos
estão de parabéns pelo belo trabalho que vem desenvolvendo!
3 comentários:
Em nome do Grupo de leitores Gyl Gallindo, agradeço pela a atenção e apoio dado ao grupo, e principalmente pelo espaço dado nesse blog para expormos nossas preocupações com a cultura de nosso município. Espero que o grupo cresça, e receba apoios para atingirmos nossos sonhos de ver um Buíque melhor. (Werlles)
Fico muito feliz por este momento ter se realizado, tenho certeza que este encontro será o primeiro de muitos que virão por ai. Nosso Grupo busca parceiros que queiram dar dignidade a cultura local, muito obrigado Manoel Modesto por nos dá espaço em seu conceituado blog.
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